Um luxo

Ele deixou a cidade de Ibotirama, às margens do rio São Francisco, na Bahia, pela primeira vez em 1983 – mas foi apenas um ensaio. Seis anos mais tarde, devido à dificuldade em encontrar um emprego em sua cidade natal, Alcy Pereira Dourado veio direto para o Edifício Martinelli, na capital de São Paulo.

Das cerca de 1267 dependências do Edifício, muitas já abrigaram desde salões, apartamentos, restaurantes, cassinos até uma igreja, no 17° andar. Atualmente, a maioria das salas do prédio comporta órgãos públicos, alguns sindicatos e bancos. Os 12 elevadores que sobem e descem os 26 andares do Edifício transportando visitantes e funcionários ficam sob a responsabilidade de Alcy, operador do painel de controle, localizado no térreo. "Fiquei um mês trabalhando como porteiro e logo fui transferido para cá", diz, mostrando o painel. "O que mais me agrada aqui, além de estarmos perto do Shopping Light e do Teatro Municipal, é a temperatura: adoro esse friozinho de São Paulo", comenta. As praças de alimentação dos shopping centers são o seu reduto predileto: "Adoro massas", diz. "Aqui tem muitas opções, acho São Paulo um luxo." Trabalhar no chamado "Decano dos arranha-céus do Brasil" – que ocupa um terreno de 2 mil m² e já chegou a comportar a confeitaria Brasserie Paulista e o suntuoso Hotel São Bento – não é tarefa das mais simples. "Por mais que você tenha experiência, sempre dá um pouco de medo de alguma coisa dar errado", diz. "Mas sou muito perfeccionista, sempre dei conta do recado", afirma. Mas o dia-a-dia no prédio e nos arredores nem sempre foi "luxuoso" e tranqüilo: durante a Revolução de 32, os terraços do Edifício Martinelli (onde fica a mansão do comendador) abrigaram uma bateria de metralhadoras anti-aéreas para defender São Paulo dos ataques dos chamados "vermelhinhos", os aviões do governo da República que sobrevoavam a cidade, ameaçando bombardeá-la.