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Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.

06/12/2025 25.35 ºC, São Paulo

"É muito difícil, mas é importante tomar posse" (Anita Malufe, produtora)

Entrar no edifício do DOPS já vale pela recepção calorosa. Sempre juntas, em uma mesa à entrada, estão Analy Alvarez, uma das autoras de "Lembrar É Resistir", e Anita Malufe, produtora da peça.

"Inicialmente, tratava-se de um evento para comemorar os 20 anos da Anistia Internacional", explica Analy. "Seria uma compilação de fotos, documentos e recortes sobre o assunto. Silnei Siqueira, diretor de "Lembrar É Resistir", foi convidado para fazer esse evento, que teria duração de apenas um dia, no Teatro São Pedro", conta. Mas a idéia de resgatar o passado tomou dimensões maiores. Começou-se a pensar em fazer algo dentro das celas: "A partir dessa idéia, fui atrás de alguns textos de Chico Buarque, Guarnieri. Pensei em mostrar que houve uma luta dura para chegarmos até essa democracia de hoje", recorda-se a autora. "O Izaías Almada (que tinha estado preso seis meses no DOPS) estava voltando de Portugal. Ficou decidido que escreveríamos a peça, mas inicialmente ela duraria um mês", conta Analy. "Foi um sucesso." Há um ano em cartaz e listas de espera para o público, "Lembrar É Resistir" é mais que um resgate de memória. "É um resgate pessoal, na medida em que sou daquela geração. Apesar de não ter participado diretamente, eu tinha um envolvimento por ideologia", comenta a autora, que também é atriz. "A luta pela liberdade era uma luta pela liberdade de expressão." Analy Alvarez é assessora do secretário de Estado de Cultura, Marcos Mendonça. Assim como muitos atores e atrizes, ela luta para que a idéia de transformar o prédio do DOPS em Escola de Artes Cênicas dê certo. "Estou travando minha guerrilha particular agora", brinca. "O prédio que aprisionou o pensamento se tranformará numa escola de livre-pensamento." O primeiro objetivo é contar com a iniciativa privada para reforma do prédio. "A planta já está pronta", diz. "Seria uma escola única da América do Sul, englobando teatro, dança, ópera", completa. "Queremos fazer um memorial do cárcere: as celas serão conservadas." Também fazem parte dos planos para o prédio de quatro andares um teatro de 400 lugares, um teatro menor para 60 pessoas, salas de aula e uma biblioteca de arte. Moradora do bairro do Bixiga há cerca de 20 anos, Analy foi assídua usuária do Centro. "Vivia na Rua Direita, na José Bonifácio, nas Avenidas Ipiranga e São João e na Praça da República", comenta. "Vivemos nossa juventude na galeria Metrópole. Os prédios do Centro Velho são belíssimos - amo o Centro de paixão", afirma. Se depender de Analy e Anita, os artistas de teatro nunca mais serão hóspedes do prédio. "É muito difícil, mas é importante tomar posse", diz a produtora.

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