De Abba a ZZ Top
A Baratos Afins foi a pioneira na Galeria do Rock, quando o número 62 da Rua 24 de maio nem sonhava em ser a Meca dos amantes de música. O edifício de sete andares era um centro de compras variado, com oficinas de TVs, salões de cabelereiros, boates e nenhuma loja de discos até a abertura da Baratos Afins.
“Eu era farmacêutico, não ligava para dinheiro, tudo o que eu ganhava gastava com discos. Mas, quando minha filha nasceu, há 22 anos, precisei ganhar mais e tive a idéia de vender os discos. Foi quando tudo começou”, conta Luis Calanca, proprietário da loja. “No começo éramos perseguidos pela segurança, pois tocávamos música e eles diziam que era alta demais. Além disso, havia o estigma do roqueiro cabeludo que era considerado um marginal.”

Naquela época, final dos anos 70, a disco music era a febre do momento e artistas como John Travolta e Donna Summers estavam no auge. Os roqueiros, no entanto, não gostaram nada da nova onda. “A gente era muito radical. Eu colocava discos desses artistas no chão, na entrada da loja, para que quem entrasse pisasse neles. Acabamos chamando atenção da mídia e as pessoas começaram a visitar a loja", diz Calanca. Foi aproveitando esse momento que outros estabelecimentos se instalaram no prédio, dando início ao que é hoje a Galeria.
Logo depois da abertura da loja, foi fundado o selo Baratos Afins, que a princípio relançava álbuns que saiam de catálogo no Brasil, como Mutantes, Raul Seixas, Secos & Molhados e Tom Zé. “Reproduzíamos de mil a três mil cópias de um disco, dependendo do artista.” Depois, o selo passou a lançar seus próprios artistas. Arnaldo Batista, ex-baixista dos Mutantes, foi o primeiro. A mais recente aposta da Baratos é a banda alagoana Mopho, que resgata a psicodelia dos anos 70, bem ao gosto de Calanca. Ele é fã de Jefferson's Airplane, Grateful Dead, Mutantes, The Doors e The Animals.
Um dos primeiros discos adquiridos pelo comerciante foi “House of the Rising Sun”, álbum que consagrou a banda The Animals. Ele teve a honra de ser apresentado pessoalmente por Marcelo Nova, ex-vocalista da banda Camisa de Vênus, a seu ídolo – Eric Burdon, líder do The Animals. “Quando ele esteve aqui - não me lembro quando foi isso exatamente - nos encontramos e ele acabou até incluindo meu nome em uma música que ele compôs. A música ainda não foi lançada. O verso em que ele me cita diz ‘Uptown, downtown, looking for some Luis Calanca. He’s got a false passport, you can go to Casablanca.’** Tenho a fita aqui, vou colocar para você ouvir”, diz ele , empolgado. “Também não me lembro do nome da música.”
A Baratos Afins transformou-se em referência para quem quer comprar LPs e CDs, principalmente raridades. São prateleiras e mais prateleiras que abrangem milhares de artistas de rock e pop e onde há espaço também para MPB, samba, trilhas sonoras, música clássica e mais o que o leitor imaginar. Lá encontra-se desde o último álbum dos Raimundos até o primeiro do Eduardo Araújo, que já é considerado raridade.
Maníacos por música devem achar o máximo ter à disposição um acervo desses, mas Luis Calanca afirma que não gosta de 5% do que a loja tem. “Hoje em dia, é tudo muito igual, não tem música boa. No rock brasileiro, por exemplo, ou a banda faz o estilo “guitarra-motosserra” dos Raimundos ou imita o estilo Chico Science”, acredita.
** algo como “No subúrbio, no Centro, procurando um tal de Luis Calanca. Ele tem um passaporte falso, você pode ir para Casablanca".