Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.
06/12/202525.35 ºC, São Paulo
Isso é amor
“Existia uma mulher que morava em um dos apartamentos do Copan, uma loira alta, que saia pelas ruas com túnica e turbante brancos, carregando a imagem de uma santa em uma das mãos e um megafone na outra. E ela ficava pregando pelas ruas, dizendo umas coisas meio desconexas. Era uma figura!”
Essa é uma das histórias que Marcos Biazi guarda da época em que ele morava no edifício projetado por Oscar Niemeyer – entre 1987 e 1988. Ele diz que desde pequeno é apaixonado pelo Centro e são justamente essas “figuras” que tornam o local mais interessante.
"Quando se anda no Centro, as pessoas passam a conhecer os mendigos, porque eles 'marcam pontos'. E tem uma coisa muito peculiar em relação a eles: muitas vezes, não querem mudar de vida. Um dia me deparei com uma mulher catando lixo e comendo, mas ela estava tão tranqüila que parecia que aquilo era a coisa mais normal do mundo, que ela estava em um restaurante, sem brincadeira!”
Mesmo nos anos em que morou na Vila Alpina, zona leste da cidade, Marcos não deixou de freqüentar o Centro. E logo o Centro “chamou-o” de volta. Hoje ele é dono de um apartamento na rua General Jardim, próxima à Praça da República, e defende o local com unhas e dentes. “As pessoas têm a idéia de que é um local violento, cheio de bandidagem, mas eu nunca tive problemas”, garante. E ele tem uma teoria para isso: “O fato de haver prostitutas e travestis por aqui faz com que quase não haja carros roubados ou com vidros estourados. Afinal, é do interesse delas que os clientes continuem freqüentando o lugar.” Outra vantagem que ele aponta é ter tudo perto 24 horas por dia, andando "dois ou três quarteirões".
Tanto amor pelo Centro tem origem na sua infância, quando suas tias - Yolanda e Maria - trabalhavam na região. “Elas me contavam muitas histórias sobre o Centro e acho que é por isso que sou fascinado.” O que ele mais gosta, além de observar as pessoas, é descobrir novos prédios. O exercício de observação a que se submete faz com que ele descubra até arquitetos que nem os próprios moradores dos edifícios em questão se dão ao trabalho de conhecer. O que faria se ganhasse na Mega Sena? “Investiria na recuperação dos prédios da região!”