Passado, presente e futuro de um cartão-postal

Jovens munidos de sonhos, homens e mulheres cheios de nostalgias, trabalhadores encarando o cotidiano, grupos com idéias para o futuro, pessoas com ações [musicais, literárias, gastronômicas] no presente, crianças de antigamente e até cães e gatos. Personagens de todos os tipos, com as mais diferentes relações com o Centro, já estrelaram os mais de 600 textos publicados pelo Sampacentro, nestes 5 anos de existência.
O do texto de hoje, entretanto, é inédito. Sim, porque nunca uma casa foi protagonista dos artigos do site. Aliás, chamar nosso personagem de casa é cometer uma pequena injustiça. É, na verdade, um palácio. Uma “construção ampla e aparatosa” (como nos explica Aurélio) cujos 108 anos de existência já presenciaram causos memoráveis. Histórias tão boas que renderam horas de “entrevista”. A tal conversa aconteceu no Campos Elíseos, mais especificamente na Avenida Rio Branco, número 1.269.
É nesse endereço que, em 1896, o Palácio Campos Elíseos começou a ser construído. Nessa época porém, ele era chamado de Palacete Elias Chaves, em uma auto-homenagem de seu próprio dono, o barão do café Elias Antonio Pacheco e Chaves. O fazendeiro tinha acabado de ser nomeado por D. Pedro II vice-presidente da Província de São Paulo. Com um cargo desse, achou que seria de bom tom ter uma residência à altura.
Contratou então alemão Matheus Häussler para elaborar o projeto. Por dois anos o arquiteto se inspirou no castelo francês de Écouen, tabalhou na planta e mandou trazer materiais de construção da Europa. Sob a responsabilidado de Cláudio Rossi, renomado arquiteto e cenógrafo italiano que na mesma época decorou o Teatro Municipal, chegaram espelhos de Veneza, maçanetas de porcelana da França, terracotas da Itália, fechaduras dos Estados Unidos... Ostentação pouca era bobagem para o local que mais tarde hospedou o presidente americano Dwight Eisenhower (1890-1969) e o papa Pio 12 (1876-1958).
Três anos depois, o palacete é inaugurado e a família Elias Chaves se muda para seus quatros luxuosos andares. Porém, eles só desfrutam da nova e suntuosa residência por alguns poucos anos. Em 1903 o patriarca morre e o mais importante exemplo de residência da fase áurea do café é vendido ao Governo do Estado. Passados cinco anos, o local torna-se residência oficial do Presidente do Estado.
Os belos vitrais do lugar (não deixe de reparar no da escadaria), entretanto, ficaram sem ser admirados por ainda uns bons anos. Isso porque o novo morador do palacete só se mudou em 1911. Com a chegada do conselheiro Rodrigues Alves e de sua família, o local passa a se chamar Palácio Campos Elíseos. Depois disso, abrigou a sede do Governo de São Paulo (1965), a Secretaria da Cultura, Esporte e Lazer do Estado (1972) e Secretaria de Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento Econômico e Turismo do Estado (1979), que funciona no local até hoje.
Como tanta História cabe em um só lugar? Como tanta História fica escondida do público? Encoberta por tediosas mesas de repartições públicas. Diluída em paredes descascadas, pisos e jardins mal cuidados, obras de arte esquecidas...
A esperança de preservar e difunfir a memória do Palácio Campos Elíseos recai sobre um projeto de recuperação e preservação que já foi orçado e apoiado pela Lei Rouanet... há quatro anos! Para ver o palacete estampando cartões-postais cidade afora, basta esperar pela boa vontade do governo e dos patrocinadores...
Av. Rio Branco, 1.269, Campos Elíseos, tel. 3331-0033