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Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.

06/12/2025 26.28 ºC, São Paulo

Música para monge

Os irmãos do Mosteiro São Bento agora têm um vizinho erudito. Não se trata de um novo inquilino, mas da programação do novo teatro São Bento. O espaço que não tem nenhuma peça em cartaz. Então está fechado, você dirá. Não mesmo! Há uma programação regular, noturna e de qualidade. Como assim? O local abriga concertos mensais de música de câmara. No último dia 14, a Academy of St. Martin-in-the-Fields Chamber Ensemble foi a convidada de gala. Simples, o próprio dom Carlos Eduardo Uchôa Fagundes Jr. subiu ao palco para anunciar o quarteto de cordas e piano. Agradeceu à presença de todos, "sem os quais não haveria espetáculo", e desceu para a platéia, para também apreciar o concerto. Então entraram o violinista Kenneth Sillito, o violista Robert Smissen, o violoncelista Stephen Orton e o pianista Hamish Milne. Começaram com o "Quarteto em sol menor, K. 478", de Wolfgang Amadeus Mozart, finalizado no exato momento em que o sino do mosteiro bateu as dez baladas. Mais pontual impossível. Em seguida, atacaram de "Quarteto em mi bemol, op. 16", de Ludwig van Beethoven, enchendo de emoção as paredes da sala, às vezes tremidas pela passagem do metrô nos subterrâneos. Mas isso não atrapalhou em nada as passagens do "allegro ma non troppo" nem da áurea espiritual que invadiu o local. No intervalo, abriu a lojinha para os friorentos tomarem sopa ou uma taça de vinho ou os famintos beliscarem alguma coisa num bar improvisado. Enquanto isso, os monges são sempre interpelados sobre as novidades, a reabertura do teatro, a reforma, os pães e bolos, a programação, a biblioteca, um irmão distante, as aulas etc. Sempre solícitos, eles respondem a tudo e a todos com muitos detalhes e mesuras. De um cavalheirismo e de uma paciência que não se encontram mais hoje em dia. Na volta, estômagos remediados, o quarteto se transformou em quinteto com a chegada do violinista Harvey de Souza, vindo de uma porta da clausura (seria um atalho?). Fecharam a noite de gala com o "Quinteto em fá menor, op. 34", de Johann Brahms. A programação agora só volta em 16 de agosto, com o Kocian String Quartet. Anote na agenda! Tá bom, mas vamos voltar ao teatro em si, que já vale a visita, com certeza. Ele já tem mais de um século de história. Inaugurado em 1903, teve de passar por uma reforma antes da reabertura, em 21 de dezembro do ano passado, com o violoncelista brasileiro Antonio Meneses e o pianista holandês Frédéric Meinders (que ficou tão fã, que voltou agora em junho só para virar as páginas das partituras para Hamish Milne). As paredes foram revestidas para ter uma proteção de isolamento acústico apropriada a uma sala de concertos; o piso foi preservado, tendo sido recoberto por um nível para acomodar a platéia, as características arquitetônicas originais foram recuperadas, remontando ao início do século 20, com a reposição do arco trabalhado na boca de cena, além de ter sido montada toda uma infra-estrutura para acomodar os profissionais convidados. Tudo isso recoloca o espaço à altura do que era no início do século, quando foi palco de teatros amadores, cineclubes e da formação educacional de Oswald de Andrade e dos poetas concretistas Haroldo e Augusto de Campos. Fica a dica para uma visita! (27/06/2005) Serviço:
Teatro São Bento
Largo de São Bento, s/nº, tel. 3188-4157 (nos dias de espetáculo há ainda um serviço de manobrista na porta do local).

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