Um mundo pra chamar de seu

Inspirado pelas comemorações dos 450 anos de São Paulo, em 2004, o cineasta Otávio Cury começou a pesquisar sobre a imigração. Foi quando percebeu que era impossível dissociar esse fenômeno da própria história da cidade. “A idéia então se expandiu para um filme que retratasse a cidade e sua história através de universos particulares de habitantes anônimos”, conta ele.
Surgiu então “Cosmópolis”.
Lançado oficialmente em abril, durante o Festival Internacional É Tudo Verdade, o documentário acompanha uma série de personagens comentando a imigração na família, os casamentos miscigenados e as vantagens e loucuras de morar na maior cidade da América Latina.
Durante o período de seis meses _“começamos em fevereiro, com o Campeonato Paulista de Karaokê, na Liberdade, e terminamos em junho, com as imagens aéreas da cidade”_, Cury acompanhou o cotidiano das pessoas escolhidas por uma equipe de pesquisadores e jornalistas. “Era sair para a rua e investigar, buscar personagens que de alguma maneira dialogassem com as características que identificamos como fundamentais da cidade: o trabalho, a velocidade, a transformação urbana e a miscigenação. Priorizamos a região central e os bairros imigrantes ao redor, Brás, Bom Retiro e Moóca, por carregarem nas suas fachadas muito da história de crescimento da cidade.”
Para ele, o mais importante era retratar a vida imigrante porque “eles foram os principais responsáveis pela arrancada inicial da cidade rumo a uma metrópole”. “Mas não esquecemos os migrantes, que são marca fundamental a partir dos anos 30”, diz. É verdade: eles estão muito bem representados pelo pedreiro Espedito, que ajudou a erguer o Copan e volta ao edifício depois de 40 anos, e pela dupla de repentistas Peneira e Sonhador, que se apresentam na Praça da Sé. “Na verdade, buscamos pessoas que pudessem ser encontradas por qualquer um num dia típico de São Paulo.”
A rotina começava cedo. “Saíamos para gravar e ficávamos com o personagem o dia todo, no ritmo dele. Na loja de tecidos dos sírios, por exemplo, acompanhamos o abrir das portas e ficamos até o final do expediente.”
Nem por isso tudo correu tranquilamente. O carnaval boliviano, no Pari, por exemplo, quase ficou de fora. “É que uma chuva torrencial quase impediu que gravássemos, mas com guarda-chuvas emprestados dos próprios bolivianos conseguimos ótimas imagens”, conta Cury, desmistificando que o evento é fechado e exclusivo dos moradores locais.
Agora o filme espera uma distribuição em circuito. “Estamos conversando com distribuidoras. Como a receptividade do público foi boa no festival de documentários, isso ajudou bastante. O formato do filme, em vídeo com 55 minutos, faz com que a televisão seja o meio mais natural de divulgação.” (29/04/2005)