Uma ousada volta por cima
por Renata Valério de Mesquita
Hoje o bairro mais moderno, jovem e alternativo de Madri é Chueca (se pronuncia "Tchueca" pra não soar muito feio em português). A maioria na região é minoria em qualquer outro canto da cidade. Isso porque grande parte dos moradores é gays. E o comércio foge da rotina: restaurantes na linha da cozinha de autor e lojas fashion assinadas por designers nacionais - muitos inclusive madrilenhos. E, pela noite, as portas continuam abertas para a badalação: um bar atrás do outro.

Em outras palavras: um bairro com muitos moradores, comércio em plena atividade, intensa movimentação cultural e de lazer de dia e de noite e agito noturno. Além de parques, porque um pouco de natureza é sempre bem-vindo. Imagina se nao é isso que queremos pro Centro de São Paulo!
Sem dúvida, também não seria má idéia se a região central de Sampa seguisse pelo mesmo caminho de Chueca. Porque o bairro até o começo da década de 90 era uma zona abandonada e "desagradável", como definem os madrilenhos. E, melhor: seu processo de revitalização nasceu espontaneamente da própria população local e mudou a cara da vizinhança para o que hoje é o ambiente mais vanguardista da cidade.
As ruas Fuencarral e Hortaleza reúnen lojas de decoração e roupas que levam assinatura de desenhistas nacionais, assim como algumas grifes internacionais. No início tudo isso surgiu da vontade de designers que queriam seu espaço ao sol e que procuravam melhorar as redondezas para atrair clientes. O público alvo: os gays - instalados aí desde os anos da ditadura de Franco quando surgiram muitos "banhos públicos" e um espaço mais reservado e acobertado para sobreviver a essa época da política espanhola. E quem melhor que os gays para consumir moda e estilo?
A idéia virou mania entre os então novos moradores e lojistas que queriam dar uma cara diferenciada pra área. O auge veio com o Mercado de Fuencarral, templo para os gays, fashions e alternativos com dinheiro no bolso. Um café estiloso, espaço para exposições e lojas de modelitos exclusivos e realmente diferentes do mercado em geral seguem o ritmo das músicas colocadas por DJs.
Depois de tanta dedicação dos grupos GLS que acreditaram, investiram e transformaram o lugar, o Soho madrilenho, como foi apelidado Chueca, é anualmente lugar de uma grande festa. Em julho o bairro faz as vezes de palco para a Semana do Orgulho Gay. Este ano, segundo a polícia, estavam presentes 197 mil pessoas; já, de acordo com a organização do evento, foram 2 milhões.
Seja como for, mesmo nos dias mais comuns, Chueca vê passar por suas ruas uma multidão interessada nas várias opções que a região oferece. Além de um ambiente propício para um banho de loja e modernidade, há muitas salas de cinema e ainda restaurantes, especialmente na rua Augusto Figueroa, onde muitos deles são os points do momento em Madri.
Assim como o Centro de São Paulo, o atrevido bairro de Chueca vale pelo menos um dia de um visitante na cidade e muitos dias dos moradores. E a região da capital paulista mereceria também a mesma dedicação, não? (31/07/05)