Chef nas alturas

Numa viagem do térreo até o 26º andar do Copan dá tempo para arrumar o cabelo, retocar a maquiagem, alinhar a roupa, conferir o número do apartamento de novo, mandar um torpedo pelo celular e lixar aquele cantinho da unha que lascou porque enroscou na bolsa.
É essa a trajetória que Valter Roza faz todos os dias da portaria do bloco F até seu recém-alugado apartamento de 80 metros quadrados. “No dia em que acabar a luz eu vou dormir na casa de algum amigo, não vou ter coragem de subir tudo isso a pé”, brinca o chef do restaurante Julia Cocina, localizado na Vila Olímpia.
Valter mora no Centro há cerca de dez anos e tem verdadeira paixão pelo local. Até cerca de um mês vivia num prédio próximo à Avenida Angélica. “Apesar disso, era um local bastante silencioso. Aqui é totalmente diferente, olha toda essa loucura!”, diz, apontando da janela para a Avenida Consolação e o Minhocão. “Estou me acostumando com os barulhos, não só da rua, mas do prédio também. Se bem que aqui eu fecho a porta e não ouço mais nada do que se passa lá fora”, conclui.
Ele resolveu mudar-se para o Copan porque acha que o prédio tem tudo a ver com sua história de morador do Centro. O apartamento ainda tem poucas coisas – na sala, por exemplo, tem um sofá que ele ganhou de um amigo, uma cômoda, televisão e uma bicicleta. “Mas até julho, que é meu aniversário, a casa vai estar cheia de coisas lindas que vou comprar”, garante.
A decoração já começou. Num domingo, passeando pela Paulista, ele passou no Top Center para comprar um pôster de filme de presente para um amigo e acabou comprando três para ele – O Processo, A História de Adele H. e A Sereia do Mississipi. “Não resisti. A Sereia do Mississipi é um dos meus filmes favoritos”, revela.
Mineiro de João Monlevarde, cidade mineira de cerca de 70 mil habitantes, Valter veio para São Paulo há 14 anos. Estudou moda, mas não se identificou. Ai começou a trabalhar como garçom, fazer cursos de culinária e se encontrou. “É como reger uma orquestra, são vários instrumentos que têm que se harmonizar para que a música saia do jeito que tem que sair. Mas cada dia mais eu aprendo que no final dá tudo certo, mesmo nos dias de maior loucura no restaurante”, finaliza. (16/04/2005)