Pra lá de Marrakech
Por Renata Valério de Mesquita
Neste Ano Mundial da Física, aqui vai mais uma prova da teoria de Albert Einstein de que tudo é relativo: depois que se viaja pelo Marrocos, não se pode mais dizer que as ruas do Centro de São Paulo são estreitas e muito menos que têm um cheiro pouco agradável. E nem é preciso estar pra lá de Marrakech pra descobrir isto. Basta passar por Fez, Tânger ou qualquer outra cidade do Marrocos - sem querer desmerecer toda a riqueza cultural, sonora, visual e olfativa do país.

Mantida como era desde o ano 789, a medina de Fez (nome dado à parte antiga da cidade) é literalmente um labirinto. Suas "ruas", ou melhor seria chamar de espaço de circulação, são divididas por vitrines sobressalentes amontoadas de produtos, clientes, carregadores de mercadorias que passam com carrocinhas ou acompanhados de burros de carga e moradores da medina (embora pelas fotos ao lado não pareça que tem espaço, os andares superiores dessas construções são, na maioria, casas. E também hotéis)...
Sem esquecer que também circulam turistas, porque a medina é um dos principais pontos de atração não só por ser um centro de compras, mas também porque aí no meio estão lindas mesquitas, curiosas faculdades (como de filosofia, que hoje está fora de atividade) e também rebuscados palácios de sultões.
Além de dividir um espaço reduzidíssimo, o cheiro é de matar em determinados trechos. Mas não é culpa dos pobres burros de carga, depende mais do zoco por onde se passa. Os zocos são as concentrações de lojas de um mesmo tipo de produto, como seria a Rua Florêncio de Abreu com suas ferramentas ou a Conselheiro Crispiniano com seu material fotográfico. O mais especialmente aromatizado, e que é ponto de visitação obrigatória dos turistas, é o "zoco do couro". Os moradores locais já estão acostumados (pelo menos é o que parece ou já desenvolveram técnicas avançadas de apnéia) e, por isso, nesta parte é ainda mais fácil reconhecer os turistas: todos estão devidamente munidos de um ramo de hortelã bem próximo do nariz.
Em Marrakech, uma cidade mais ampla e preparada para o turismo, já dá para arriscar entrar na medina sem guia e sair de lá no mesmo dia. Mas, por ser um pouco mais modernizada, o perigo é ser atropelado pelas motos enlouquecidamente rápidas que cruzam o centro comercial. E para quem quer mais espaço, o que não quer dizer menos multidão, a praça Djem'a el-Fna a partir das 17h é um centro gastronômico (umas 50 barracas se instalam na praça) e cultural (contadores de história - pena que que eles falem em árabe -, encantadores de serpentes e muitas outras atrações).
Tânger, por ter sido muito tempo terra de ninguém e de todo mundo ao mesmo tempo, já tem sua arquitetura mais misturada com o estilo europeu. Tânger já passou por dominaçao fenícia, romana, visigoda, espanhola, portuguesa, inglesa e francesa. Por mais de 30 anos, de 1923 a 1956, foi "Zona Internacional", administrada por um conselho de representantes de nove países que pregava liberdade econômica. Mesmo com toda essa carga história, a medina de Tânger ainda tem seu toque labiríntico e estreito.
Depois de uma viver essas experiência, sem dúvida, qualquer um muda suas referências. E as Ruas do Triângulo e todas as outras do Centro parecem muito cômodas! (28/04/2005)