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Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.

06/12/2025 25.35 ºC, São Paulo

A volta da Cinelândia?

Por Jones Rossi

Em breve, pegar um cineminha no Centro pode voltar a ser um programa comum do paulistano. Grandes exibidoras estão concentrando suas atenções nas enormes salas com mais de mil lugares localizadas no que já foi a Cinelândia de São Paulo, região em torno do Largo Paissandu. Um dos mais cobiçados é o Marrocos. Famoso pela imponente entrada, os grandes espelhos erverdeados no lobby e as mais de mil poltronas de couro (a maioria continua lá, intocada), o cinema deve ser desmembrado em cinco salas menores. O Cinemark quer transformá-lo em um multiplex. “Desde o ano passado estamos procurando um parceiro para revitalizar e modernizar o Marrocos”, revela Valmir Fernandes, diretor-presidente do Cinemark. Pelo projeto da empresa, toda a área de entrada e o lobby da super-sala deverá ser preservada. Outra exibidora, a Playarte, também possui grandes planos para o Cine Marabá, controlado por ela. O projeto da empresa, feito pelo arquiteto Ruy Ohtake, prevê que os 1.655 lugares do antigo cinema dariam lugar a cinco salas menores, no sistema multiplex. Uma das salas previstas é maior, com 563 lugares, e as outras devem variar entre 157 a 223. “Vai ser igual a um cinema de shopping, com som digital, tela grande e poltronas confortáveis”, diz Otelo Bettin Coltro, vice-presidente da Playarte. Ele acredita que tudo deverá ficar pronto até maio do ano que vem. Apresentado há quase dois meses na prefeitura, faltam acertar alguns detalhes para a liberação do projeto. Como o prédio onde fica o Marabá é tombado, a reforma tem de levar em conta as características arquitetônicas do edifício. “O pré-projeto não considerou isso, por isso atrasou um pouco, mas a prefeitura tem o maior interesse em qualquer projeto para a área central da cidade”, afirma o secretário municipal da Cultura, Celso Frateschi. Tanto o Marrocos como o Marabá são tombados, por isso, qualquer alteração depende da aprovação da prefeitura. Segundo Ronaldo Parente, assistente técnico do DPH (Departamento de Preservação Histórica), isso não deve ser encarado como um obstáculo. “Existem estrições ao que pode ser feito, mas isso não impede mudanças”, diz. Hoje, a maioria dos cinemas da região foi desativada ou simplesmente transformada em estacionamento, igreja ou cinema pornô. “A decadência começou nos anos 70, quando as pessoas começaram a ir embora do centro por causa da violência, do trânsito infernal e da sujeira nas ruas”, afirma Cláudio de Sena Martins, arquiteto e criador do projeto Broadway Paulistana. Sena pretende, com seu projeto, reativar a maioria dos cinemas do Centro, alguns assumindo novas funções, como casas de espetáculos musicais ou teatros. O vereador Nabil Bonduki (PT) formulou uma lei, já aprovada e sancionada, à espera apenas da regulamentação, que dá incentivos fiscais aos cinemas da região em troca de uma contrapartida cultural. A lei os insenta do IPTU e reduz o ISS (Imposto Sobre Serviços) de 5% para 2%. “Havia um risco desses cinemas desaparecem. A lei vai reduzir custos e impedir que os cinemas que restam fechem”, diz. Cine Metrópole está desativado. Mas ‘Broadway Paulistana’ pode resgatá-lo
A sala do também tradicional Cine Metrópole está desativada, mas volta e meia aparece algum projeto político ou empresarial tentando resgatá-lo da ociosidade. Localizado na galeria que leva o mesmo nome do cinema, o Metrópole também pode vir a ser incluído no projeto Broadway Paulistana. Cine Olido quer resgatar o glamour dos velhos tempos. Mas sem a orquestra
O Cine Olido, na época de sua inauguração, na década de 50, era o ponto de encontro da elite de São Paulo. Um dos mais caros da capital, exibia somente as grandes produções de Hollywood e possuía até uma orquestra que tocava antes de começar as sessões. Fechado em 2001, foi reaberto este ano pela Prefeitura. Atualmente, no local, funcionam também uma sala de exposições, teatro e oficinas de dança. Cine Marabá: cara nova e o mesmo tratamento recebido pelo Bristol
Até maio do ano que vem, o Cine Marabá já deve estar de cara nova. A Playarte, que controla o cinema, vai repetir o que fez com o Bristol na Avenida Paulista e vai transformar o velho cinema em um multiplex com cinco salas. Como o edifício é tombado, as características do velho Marabá deverão ser mantidas. Mas por dentro, ele será igual aos cinemas de shopping, com som digital, telas gigantes, poltronas confortáveis e muita pipoca. Bijou, um marco do ‘cinema-cabeça’, hoje é escola de teatro
O Cine Bijou sempre foi aquela sala conhecida por exibir uma programação exclusivamente dedicada ao ‘cinema-cabeça’. Especializado em filmes de arte, atraía o público intelectual, onde ia desde gente como Jô Soares a estudantes universitários. Esse tipo de platéia fugia das grandes salas e dos recém-abertos (na época) cinemas de shopping. Atualmente, ali funciona uma escola de teatro. Com a concorrência, Cine Paris pode sumir do mapa
A revitalização dos grandes cinemas do Centro pode fazer uma vítima. Segundo Ocimar Alves dos Santos, administrador do Cine Paris, o cinema rovavelmente vai desaparecer da cidade por causa da concorrência. “Não vão sobrar produtos atraentes para a gente exibir. Com os aluguéis caros e a fatia da receita que fica com os produtores americanos, vai ficar impraticável”, lamentou. O futuro do Cine Paissandu ainda é incerto
Assim como outras 20 salas do Centro (entre desativadas e em Funcionamento), o Cine Paissandu está incluído no projeto ‘Broadway Paulistana’. Mas seu futuro ainda é incerto. Pelo projeto, as salas de cinema podem ser aproveitadas em outras funções, como casas de espetáculos. Mas não deve ser este o destino do Paissandu, que pode continuar, mesmo que o projeto seja posto em prática, como cinema. * Reportagem originalmente publicada no Jornal da Tarde, em 26/10/2004

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