Até fazer feira é balada

No dia 12 de dezembro de 2004, a jornalista Roberta Vieira abriu as portas de seu apartamento de 50 metros quadrados nos Campos Elíseos oficialmente para os amigos. A open house - chá de cozinha moderno – na verdade aconteceu no terraço de um prédio da Rua Vitorino Camilo, a três quarteirões da São João, do metrô Marechal Deodoro e do Minhocão.
Regada a cerveja e petiscos – o suficiente para animar os amigos nas rodinhas -, a festa tinha um elemento bastante peculiar. Ali, do terraço do prédio, entre outros prédios do Centro, dava pra ver o Teatro São Pedro – um dos mais bonitos e importantes da cidade. E do apartamento da mais nova moradora da Champs Eliseè paulisana – que fia um andar abaixo do tal terraço – a vista é igualmente privilegiada.
Ao contrário de muitos moradores do Centrão – apaixonados inveterados pelo local – Roberta nem sonhava em ir para lá. “Há pouco mais de um ano eu estava empregada numa grande assessoria de imprensa e tinha um salário razoável. Meu sonho era sair da casa dos meus pais e morar em um apartamento em Perdizes”, diz ela, referindo-se ao bairro da zona oeste paulistana onde um apartamento do tamanho do dela – que tem cerca de 50 metros quadrados – custa em média 150 mil reais. “Mas logo houve um corte na empresa, e eu fui mandada embora. Mudei para uma agência pequena, onde não tenho carteira registrada e ganho bem menos. Com tudo isso, aposentei os planos”, conta ela.
Em junho de 2004 começou novamente a busca. Mas, com o salário reduzido, foi difícil encontrar um apartamento em Perdizes. “Um dia, uma corretora me trouxe para ver uns apartamentos horrorosos do Plano 100 aqui no bairro. Eu nem sabia onde ficavam os Campos Elíseos. Odiei os apês, mas em vez de pegar o carro e ir embora, eu e meu namorado resolvemos dar uma volta. No começo senti medo, é um local estranho, tem moradores de rua, uns lugares meio bizarros. Mas logo fui descobrindo a beleza. Resolvi que queria vir para cá”, afirma. “E, quando passei na frente desse prédio, fiquei encantada com a fachada. Tinha uma plaquinha de ‘vende-se’ e fui atrás. O apartamento estava todo reformado, com armários. Quis vir pra cá na hora.”
Hoje, dois meses depois de estar morando lá, ela se diz apaixonada pelo local. “Tem um senhor vizinho meu que conhece a história toda do bairro e cada dia me conta uma coisa. E aí eu vou fazendo ligações com a minha própria história e achando mais bacana morar aqui”, revela. “Estou perto de tudo, posso ir a pé para meu trabalho. Aqui, até fazer feira é uma balada”, diverte-se. (04/01/2005)