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Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.

06/12/2025 26.28 ºC, São Paulo

Da janela lateral

Era uma vez um antigo cinema, desses do Centro, desativado há muito tempo. Um dia resolveram reocupá-lo e devolver o sentido cultural que ele um dia teve. Assim renasceu o Cine Olido, na Avenida São João, no número 473. Agora ainda mais incorpado, transformou-se em galeria, com exposições, mostras cinematográficas, fotografias, escola de dança, espaço para circo, internet café e muito mais. A primeira turma a explorar os labirintos e escadarias da Galeria Olido foi “Povos de São Paulo”. Parte fotografia, parte videocrônicas --e ainda uma outra parte documentário, que só vai ficar pronta mais para o final do ano--, o projeto trata de uma São Paulo imigrante. Com coordenação de Jurandir Muller, Iatã Cannabrava e Rachel Monteiro, reúne profissionais e amadores com várias câmeras na mão para lançar “uma centena de olhares sobre a cidade antropofágica”, como definiu Cannabrava. “A cidade eram eles”, completa. O resultado são mais de 300 imagens, de 124 fotógrafos diferentes, em 50 painéis espalhados por 100 metros quadrados de cenas ampliadas. O resultado é tão caótico --e interessante-- quanto a cidade retratada (detalhe para uma imagem da equipe Sampacentro, com o título “Maquiagem japonesa”: “Rafaella Gobara, descendente de japoneses e italianos, usando maquiagem em estilo japonês”. Dá-lhe Renata!). A sugestão é explorar o espaço e se perder nas videocrônicas. Criadas por Jurandir Muller, Rachel Monteiro, Dainara e Tatiana Toffoli e Kiko Goifman, fazem um mosaico com um minuto de duração de diversos olhares. “Cada diretor”, conta Goifman, “propôs o recorte que gostaria a respeito da imigração. O meu interesse foi pela intimidade”. Por isso o ponto de partida: a janela de cada habitante. “Busquei uma diversidade tanto na formação, idade, sexo do entrevistado como também na paisagem de sua janela. E usei o Super-8mm para criar uma atmosfera de falsa nostalgia, de falsa memória.” O único pedido de Goifman para os “diretores-personagens” era que fossem até a janela em algum momento. “Ainda bem que eles não filmaram em abundância, o que diminuiu a dor dos cortes na montagem. Foi um exercício de evitar o excesso para não estragar tudo”, afirma o diretor do documentário biográfico “33”. Dois personagens dos vídeos foram motivados por escolhas pessoais. “Convidei o cineasta Jean-Claude Bernardet, porque o admiro bastante --fora ele morar num apartamento bem no alto do Copan. Foi irresistível. Outro amigo foi o norueguês Jan, cuja janela mostra uma paisagem bucólica, com direito a igreja e canto de maritaca em pleno Sumaré.” Os vídeos retratam uma paixão ambígua pelo caos e pela beleza: “O Centro é, de fato, a única área que tem a tal da miscelânea e do contágio atribuídos à cidade. No Centro realmente o plural acontece. Por isso também é interessante mostrar o trabalho na Galeria Olido. A vizinhança vai do rock + hip hop + cabeleireiros afro das Grandes Galerias, passando por uma boate de shows eróticos, camelôs com cintos de tachas e falsos ray-bans, churrasco grego, Teatro Municipal, tatuagem tosca de rua etc.”. Mas tem muito mais dessa cidade de metamofoses ambulantes, entre Centro, Vila Buarque, Perdizes... É se jogar mesmo para conhecer! (28/09/2004)

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