SP da Paixão

Bar Riviera (gênesis)
De madrugada aqui no bar
Num esforço coletivo
Recriamos o mundo
E os homens.
E não temos culpa se Deus
Tira tudo do lugar de manhãzinha.
(De “Contramão”, de Ulisses Tavares, 1978)
Estes versos do paulista Ulisses Tavares, de Sorocaba, é apenas uma das 130 poesias reunidas em “Paixão por São Paulo - Antologia Poética Paulistana”, organizada por Luiz Roberto Guedes.
Ao todo, estão presentes 71 poetas, vivos ou mortos, para compor o “Plano Diretor” da obra: “Um panorama poético da cidade ao longo do século 20, flagrando seu crescimento e dinamismo, com poemas e poetas significativos, através das gerações, desde o pré-modernismo aos poetas em atividade neste princípio do século 21”, segundo Guedes.
A cidade de São Paulo se tornou a “musa concreta da obra”, “fazendo uma coleção de postais ‘topoéticos’ de diferentes épocas, ou uma cartografia sentimental”, completa o organizador.
O grosso do livro foi organizado em cerca de três meses, a partir de julho de 2003. “Reli minhas estantes de poesia, fiz pesquisa na Biblioteca Mário de Andrade e recebi excelentes sugestões de poetas mais velhos e mais sábios. Como o lançamento demorou um pouco, pude fazer novas descobertas e inclusões. No resto do tempo, banquei o detetive, tentando localizar descendentes dos poetas já falecidos.”
A principal preocupação era dar voz às diferentes escolas e dicções. “Considerei imprescindível incluir poetas de pulso, capazes de dizer algo essencial sobre São Paulo. Mas, de todo modo, qualquer antologia é sempre imperfeita e injusta”, se desculpa Guedes.
Ele destaca dois “estrangeiros”: Ricardo Aleixo, de Belo Horizonte, e Rodrigo Garcia Lopes, de Londrina, “dois poetas de alta temperatura criativa”.
Luiz Roberto Guedes também é poeta e se incluiu na antologia. Ele define São Paulo com o prazer das letras: “Diria que é uma cidade em fuga. Depois da correria da semana, o paulistano corre para a praia ou para o campo. Mas São Paulo não cabe numa única definição. Muitos poetas, no livro, buscam caracterizá-la. Frederico Barbosa a chama ‘megavila, capital do interior, oxímoro máximo’. Glauco Mattoso a define como uma obra em eterno andamento, ‘in progress’. Para Donizete Galvão, a cidade ‘habita em mim/sem que eu habite nela’. E Roberto Bicelli, irônico, diagnostica: ‘Amar-te é implodir-te em parte’. Os poetas buscam o lugar do vivente na cidade”.
E a tarefa de escrever sobre a Paulicéia? “Certamente não é fácil, mas é inevitável. A cidade é impactante, trepidante, perturba o nosso sono com britadeiras. É ‘o mantra da máquina ubíqua’ de que falo num poema. O bucolismo possível fica por conta dos pombos empoleirados nas marquises ou ciscando nas calçadas, às portas das lanchonetes”, sabatina, com acidez. (13/08/2004)
Serviço:
Paixão por São Paulo - Antologia Poética Paulistana
Organizador: Luiz Roberto Guedes
Editora: Terceiro Nome
Quanto: R$ 35 (184 págs.).