Passeio pela Pinacoteca

Por Lúcia Valentim Rodrigues
A Pinacoteca do Estado é hoje em dia um dos principais espaços de exposição da América Latina. As mostras inauguradas no museu chamam cada vez mais público desde a sua restauração, em 1995, quando uma retrospectiva do escultor francês Auguste Rodin criou filas extensas ao lado do Parque da Luz. É um espaço que reserva surpresas por todos os lados, e muitas delas têm a ver com o acervo da instituição, que está sempre em parte exposto no segundo andar.
Nas extremidades das escadas, tomo um susto com um mulato de gesso gigante, obra por nome “O Brasileiro”, de Rafael Galvez. Do lado de fora, no mezanino que fica de frente para a Avenida Tiradentes, uma escultura também imensa de Iole de Freitas, feita com metal, ilustra a vista dos passantes e visitantes. O antigo trabalho de Victor Brecheret, “A Portadora de Perfume”, que anteriormente levava seu olhar para o trânsito dos carros, agora contempla a passagem dos transeuntes e escolares próximo a uma escada.
E parece que o mármore se ergue rumo aos céus num trabalho sem título, mas belíssimo, de Sérgio Camargo. Ao chegar ao segundo andar, é necessário conhecer as pontas da sala. Além de grandes telas pintadas a óleo, uma instalação engana o olhar ao deixar a luz passar por entre canudos e caixas de papelão na obra “Cinzas”, simples e muito bem bolada.
Não há elogios que bastem para a galeria que se forma num pequeno recorte do que se encontra na coleção da Pinacoteca. Uma pérola num corpo nu de mármore, datada de 1913, começa a contar a história do espaço. A primeira vitória de Aníbal retrata um jovem rapaz agarrado a um pássaro que ele parece ter acabado de abater. Afinal, as artes são feitas de impressões...
Ali, um tanto escondido está um bom lugar para namorar: mesmo freqüentada por grupos escolares, pessoas monitoradas e outros interessados, um pequeno mirante no segundo andar oferece um recôndito local, convidativo a um beijo. Até as esculturas ali se voltam de costas para privilegiar os amantes.
O passeio não seria completo se não contemplasse as salas especiais. Uma se dedica especialmente a Rubem Valentim e seus totens geométricos. Outro corredor vai percorrendo os períodos da arte, com destaque para a "Via-Sacra" de Victor Brecheret, que ocupa boa parte da sala e atrai os olhos de qualquer um que adentre o espaço.
É uma visita que pede um eterno retorno, como se nunca acabasse o que há para olhar. Só o acervo já vale essa viagem, que, se for aos sábados, é ainda por cima de graça. Não há por que perder. (01/09/2004)