Vendendo foto enquanto espera a música

“Vai no Poupatempo, senhor?” “Foto, atestado médico, precisa?” Estas são frases comuns de ouvir de diversos camelôs que se espalham nos poucos metros que separam a saída do Metro Sé e a entrada do Poupatempo.
A maioria das pessoas que passa por eles não dão atenção, passam direto. Algumas são mais simpáticas e dizem algo como “não, já tenho tudo, obrigado”. Nesses casos, o camelô, para não perder o rebolado, mostra o caminho da entrada do Poupatempo para a pessoa e ainda dá informações do tipo “se for tirar RG, balcão laranja”.
Um desses camelôs é Ademar, um goiano de cerca de 30 anos. “Muitas vezes, quando eu vou explicar para a pessoa onde fica o Poupatempo, ela diz ‘e eu te perguntei alguma coisa?’. Parece que não teve uma noite boa, sabe...”, ri ele, muito tímido, mas indicando que pensou em “besteira”. De repente, fica sério novamente e emenda: “Ah, eu também tenho meus dias de mau humor, então relevo.”
Ademar veio para São Paulo em 2001 tentar a carreira musical. Ele toca violão e adora música sertaneja (“nasci no interior, aprendi a gostar desde pequeno”), por isso está tentando entrar em um grupo que se dedique ao gênero. “Estão pintando algumas coisas aí, vamos ver.” Ele diz que não toca muito bem, mas que dá pra levar um Raça Negra, referindo-se ao grupo de pagode romântico que estourou nos anos 90.
Enquanto o sucesso não vem, Ademar trabalha na saída do Metrô Sé fazendo “propaganda” de um lugar para as pessoas tirarem foto 3x4. “A melhor época para trabalhar é no começo do mês. As pessoas recebem seu salário e vêm tirar documentos. No dia 20 também é bom, porque tem o ticket”, diz, referindo-se ao adiantamento que muitas empresas pagam juntamente com os benefícios. “Mas do dia 20 até o fim do mês é uma tristeza.”
O camelô mora num hotel na região da Luz onde divide um quarto com um colega. Os dois pagam R$ 480 mensais de aluguel. “Tudo o que tem no apartamento é meu. Televisão, geladeira. Quando eu quiser mudar, posso levar tudo”, orgulha-se.
Caseiro, Ademar prefere ficar assistindo TV e curtindo uma bebidinha a sair com os amigos. No momento está solteiro e parece não querer compromisso tão cedo. “Tinha uma namorada até pouco tempo, mas acho que, quando o homem e a mulher não dão mais certo, não adianta forçar”, filosofa.
Na hora de fazer a foto para a matéria, sua timidez se revela por completo. “Não tiro foto nem pra namorada. Minha última não tinha uma foto minha, odeio tirar foto”, diz ele, desculpando-se. Bem, diante deste argumento, não deu pra insistir demais... (21/07/2004)