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Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.

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Cinco horas de palco -- sem balão de oxigênio

A estréia de Monique Gardenberg na direção de um espetáculo teatral, “Os Sete Afluentes do Rio Ota”, não está para brincadeira. Adaptando o texto do canadense Robert Lepage e do grupo Ex-Machina, ela segura a direção de cinco horas de espetáculo, agora retornando para minitemporada com um total de 24 apresentações, no Teatro Hilton. O épico se passa em cinco continentes --é falado em cinco línguas--, conta com 35 profissionais e atravessa o período de 1945 a 2000. Para Gardenberg, seu namoro com a peça vem de longe: “Eu era apaixonada pelo texto, pela linguagem, pela riqueza do espetáculo, por sua poesia. Fui movida pela paixão, por isso não parei para pensar em nada, não medi, de antemão, o trabalho que daria”, explica. “Tivemos apenas sete semanas para ensaiar. Foi um mergulho profundo de todos, sem balão de oxigênio.” “Rio Ota” estreou em julho de 2003 e volta consagrado de um passeio pelo Brasil --ganhou vários Prêmios Shell, por exemplo. Gardenberg conta que, quando terminou a primeira temporada em São Paulo, no teatro Sesc Anchieta, foi “um fim prematuro”. “O retorno era inevitável. Batalhamos muito para voltar e aqui estamos de novo, felizes da vida.” Para ela, a atualidade do texto, de 1996, continua até hoje: “Desde que vi a primeira montagem, ocorreram episódios significativos que abalaram o mundo, como o 11 de Setembro, o ataque ao Afeganistão, a injustificável Guerra do Iraque. Esses fatos comprovam a necessidade de fazermos uma reflexão sobre a conduta humana e o seu destino. Serve para demonstrar, por exemplo, que nem o homem, nem a história conseguem pôr um fim na produção repetida de tragédias. Faz você parar para pensar sobre a sua própria existência, sua insignificância e, ao mesmo tempo, sua devastadora humanidade”. Segundo a diretora, “a peça tem a sua força, e o Teatro Hilton tem um desenho que permite perfeitamente a montagem”. “Ali, o ‘Rio Ota’ ficou mais íntimo, mais perto do público.” A montagem também foi auxiliada por estar no Centro de São Paulo. “Tudo o que vamos precisando para as substituições, ou para as coisas novas que vou criando, é só dar uma corridinha e comprar tudo ali pertinho mesmo: lenço de nariz masculino, camisa azul social, sapato vulcabrás, bloco de papel, cola, óculos de grau, bandeira americana, gravata de época”, enumera Gardenberg, que tem ainda no currículo a direção de filmes como “Jenipapo” e “Benjamim”. “Acho o Centro de São Paulo importantíssimo, e ele está muito mais incorporado à cidade do que o Centro do Rio, por exemplo. Aqui, as pessoas freqüentam com facilidade tudo o que acontece nos teatros, nos museus, nas salas de concertos. Não é um tabu, pelo contrário”, elogia. E finaliza a entrevista como o público, mesmo após as cinco horas de espetáculo: com uma catarse de aplausos. “A resposta da platéia é maravilhosa. Depois de cinco horas só recebendo de um elenco magnífico, ela quer devolver um pouco. Por isso os aplausos são emocionantes. É lindo!” (01/07/2004)

Serviço:
Os Sete Afluentes do Rio Ota
Texto: Robert Lepage e Grupo Ex-Machina
Direção: Monique Gardenberg
Elenco: Maria Luisa Mendonça, Caco Ciocler, Beth Goulart, Simone Spoladore, Pascoal da Conceição, Helena Ignez
Onde: no Teatro Hilton (Av. Ipiranga, 165, tel. 3188-4148)
Quando: sábados, às 19h, e domingos, às 18h (duração de cinco horas, incluindo intervalo de 25 minutos); até 5/9.
Quanto: R$ 30.

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