Rock, lama e beijos no Anhangabaú

Sou fã de rock desde os 11 anos e aos 14 fui ao meu primeiro show. Os Titãs haviam acabado de lançar Titanomaquia, o primeiro álbum sem Arnaldo Antunes e o último (na minha humilde opinião) no qual ainda pulsava um pouco da energia que costumava caracterizar a banda, e estavam divulgando o novo trabalho.
Nenhum lugar combinaria mais com aquele momento do que o Vale do Anhangabaú – um local eclético, que havia acabado de passar por uma reforma. Eu e mais seis amigas chegamos lá por volta das 17h30. O local já estava tomado. Eu havia visto aquele tanto de gente (e até mais) pela televisão, mas ao vivo é muito mais impressionante.
Engravatados se misturavam a hippies e mendigos debaixo da garoa que cobria o local. A banda de abertura era formada por uns caras que misturavam punk, rock e influências da música nordestina, um tal de Raimundos, que pouquíssima gente conhecia então e a maioria ignorava naquele dia, mas que cerca de seis meses depois viriam a se tornar os queridinhos das rádios e da MTV.
A apresentação dos Raimundos foi muito competente, e os meninos demonstravam bastante confiança, especialmente em se tratando de uma banda iniciante abrindo o show para caras já consagrados.
Do lado de cá do palco eu também estava indo bem na minha estréia. Pulava, gritava, entrava naquelas rodinhas que se formam nos shows, fui até jogada para cima. Tudo o que eu sempre quis fazer e que até então só conhecia pelos clipes e shows da TV.
Se o show dos Raimundos foi empolgante, os donos da festa botaram fogo na galera. Tocaram os sons novos, como Será que é disso que eu necessito? e Nem sempre se pode ser Deus, e os clássicos, que obviamente foram os que levantaram o público – Televisão, Flores e Marvin, por exemplo.
Lá pelas tantas, já ensopada e cheia de lama (mas feliz), tomei um escorregão feio e bati meu joelho com tudo no chão. Alguém me ajudou a levantar e só quando eu estava de pé e recuperada do tombo pude identificar que era o mocinho que eu estava já de olho desde o começo do show. “Machucou muito?”, ele perguntou. “Não, não foi nada”, eu respondi, totalmente sem graça.
Depois de uma rápida paquera, ficamos. Não vou entrar em detalhes aqui porque todo mundo sabe como essas coisas rolam e como é bacana, especialmente quando se tem 14 anos e está em um puta show de rock no Anhangabaú.
Ele tinha o cabelo todo enroladinho e um sorriso lindo, era corinthiano (como eu), fã de Nirvana (como eu), geminiano (como eu) e faria aniversário dali uma semana (como eu!!).
Curtimos o restante do show juntos e nos encontramos no dia seguinte, no metrô República. Namoramos um tempinho e nossos pontos de encontro eram sempre no Centro da cidade. Mas essa é uma outra história...
Jordana Viotto
(02/07/2004)