Muitas páginas rodadas

Ele é jornaleiro, mas bem que poderia ser jornalista. Aos 18 anos, Thiago Pires de Andrade já passou por sete empregos. Vendedor de loja de surfe, office-boy, colocador de insulfilme, empregado em oficina de funilaria e pintura... três anos foram necessários para que ele chegasse à Banca República, que existe há três gerações e agora funciona 24 horas na calçada da Avenida Ipiranga próximo ao Copan, em frente à praça que lhe empresta o nome. “Sou rodado”, diz.
É ali onde, há quatro meses, o garoto desinibido conversa com os clientes e se intera das novidades sobre carros, motos e música. “A gente trabalha 12 horas por dia e tem só uma folga por semana, mas gosto daqui porque falo com todo tipo de cliente. Esse trabalho é uma aventura: todo dia chega uma revista nova, principalmente às sextas-feiras, quando o reparte é maior. Quando estou a par do assunto, consigo conversar bastante, não tenho vergonha de nada. O que tenho para falar falo na cara das pessoas”, dispara. “Não tenho do que reclamar. Mesmo porque agora penso por dois.”
Pai de uma menina há um mês, o morador do bairro de Itaquera e fã de filmes de ação se divide entre os estudos no segundo ano do colegial e as cerca de mil publicações que ocupam as prateleiras da banca. “Não tenho tempo de ler, mas gosto das revistas de carro e moto”, conta, enquanto mostra a última edição da "Full Power", que exibe na capa um reluzente A3 com rodas 18", carroceria em dois tons, DVD, bancos concha, portas sem maçanetas, capô e pára-lamas rasgados: “Um dia vou ter um”.
As publicações especializadas em música também estão entre as preferências de Thiago. “Gosto de rap, amiga. Tem um CD na revista da Jovem Pan com uns sons novos aí. Gostei desse Eve e Drag-on e também do 50 Cent. Os rappers gringos são bem melhores que os nacionais. Eles falam bastante palavrão nas letras, mas a gente acaba não entendendo tudo o que eles dizem mesmo... Então tudo bem.” (19/06/2004)