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Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.

06/12/2025 26.28 ºC, São Paulo

A Espanha não é aqui :(

por Mariana Della Barba

Os homens, não sei. Mas as mulheres certamente vão me entender... Estava eu em uma cidadezinha medieval próxima a Madri chamada Toledo, desesperada para ir ao banheiro. Depois de constatar que todos os lugares que a mocinha do centro turístico havia indicado estavam fechados, entrei em um restaurante. Pedi ao garçom, com toda minha educação (em português-lento, já que me sinto uma palhaça falando portunhol), que me deixasse usar o toalete. Ele não só negou como ficou impedindo minha passagem com toda aquela pseudo-autoridade que é característica do povo espanhol. Chega então uma garçonete. Minha salvação, pensei, afinal “mulher apertada é igual no mundo inteiro, ela vai entender meu drama”. Ledo engano. Ela fez desfeita do meu suplício e me expulsou do lugar. Depois, fiquei pensando... e seu eu fosse uma “alemãzona” branquela ou uma inglesa enrolando a língua para arranhar um espanhol? Ahhh, aí não tenho dúvidas. O garçom abriria passagem com um sorriso no rosto e a garçonete gentilmente me indicaria “donde está el baño”. Tudo porque isso é o que os espanhóis fazem melhor: atrair turistas endinheirados. Um solzinho aqui, umas tapas dali e lá vão eles tirando seus euros novinhos do bolso, seja para comprar um regalo ou uma paella! E como as ruelas de Toledo, datadas de um século antes de Cristo, instigam o pensamento, me veio uma outra imagem na cabeça. Como seria o Centro de São Paulo cheio de gringos? Uma beleza! Sério, pare para pensar. Não seria nada difícil. Temos tudo que eles gostam: prédios históricos, uma belíssima catedral, um imponente mosteiro, muitas lojinhas interessantes (incluindo aí os camelôs), cafés aconchegantes, boa comida e – o principal – a simpatia latina, como a dos espanhóis. Se Toledo é conhecida como a “cidade das três culturas” (por séculos, a partir do VIII, cristãos, árabes e judeus conviveram na cidade), o nosso Centro tem a região da São Bento: viaduto belga (o Sta. Ifigênia), igreja italiana (a Sta. Ifigênia), árabes vendendo tecidos na 25 de Março, coreanos anunciando seus eletrônicos na Galeria Pajé, portugueses com suas barracas no Mercadão... Incontáveis culturas mescladas em poucos quarteirões. (31/05/2004)

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