Flash news

Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.

06/12/2025 25.35 ºC, São Paulo

Pastel secular

Quem nunca encostou em um balcão pra comer um pastel no meio do dia não sabe o que é ser paulista. Quente, sequinho e bem recheado, é a estrela das feiras-livres, dos botecos e das praças de toda a cidade. Verdadeira mania entre os paulistanos, a guloseima surgiu despretensiosa, como uma versão brasileira do rolinho-primavera feito pelos chineses que chegaram ao país e tiveram de adaptar suas técnicas à matéria-prima disponível.

Vendo o pastel assim tão popularizado, fica difícil imaginar que foi graças a ele que grande parte dos japoneses que desembarcaram no Brasil durante a Segunda Guerra Mundial conseguiu driblar a discriminação. Na época, havia muito preconceito por causa da aliança formada entre alemães, italianos e japoneses. Nesse contexto, a solução, ao chegar aqui, seria se fazer passar por chineses – e a melhor forma de colocar a idéia em prática foi abrir pastelarias onde quer que estivessem. Uma das casas mais antigas de São Paulo fica no número 88 da Praça da Sé. Ocupando um prédio de arquitetura neoclássica na esquina da rua Barão de Paranapiacaba, a Pastelaria Modelo sobrevive há mais de 90 anos no mesmo edifício onde funcionou o famoso bilhar Taco de Ouro. “O salão era um dos maiores redutos de boêmios da cidade”, conta Leandro Santos, gerente da pastelaria há 20 anos. “Eles vinham jogar e desciam para matar a fome depois das partidas”, diz. “Entre uma tacada e outra, até o Rui Chapéu já comeu aqui.” A Modelo está sob o comando da mesma família há mais de quatro décadas, mas o proprietário, por acaso, não tem ascendência oriental. Mesmo assim, o gerente contabiliza a venda de 800 a mil pastéis diariamente. “O movimento já foi muito mais intenso”, lamenta Santos. “Na época em que os comícios e festejos como os do Dia do Trabalho eram na Sé, chegamos a vender até 10 mil pastéis em uma única tarde. Com a mudança dos eventos para o Vale do Anhangabaú e a Avenida Paulista, a situação ficou complicada.” Hambúrgueres, pizzas, coxinhas, esfihas e empadas dividem o balcão com pastéis de carne, queijo, palmito, pizza e frango com catupiry que outrora fizeram a felicidade de jogadores e manifestantes. Hoje quem encosta no balcão para degustar o salgado são pessoas que procuram uma refeição rápida e barata – na Modelo, o pastel é vendido a R$ 1,40 – e não se importam com as invasões de pombas que assolam o local. E, se há consumidores, há concorrência. Caminhando em direção à Rua São Bento, é possível conferir de perto a promessa do pastel de 21 centímetros a R$ 1,90. Abóbora com coco, banana com canela, doce de leite com nozes, floresta branca, sonho de valsa, Romeu e Julieta e até camarão com bacalhau são os recheios disponíveis na casa O Pastel. Aberta há menos de um mês na altura do número 308, a pastelaria conquistou a clientela do Centro e é responsável por uma fila que chega a atrapalhar os pedestres aos sábados. Haja caldo de cana! (09/05/2004) Serviço:
Pastelaria Modelo – Pça. da Sé, 88, tel. 3242-2137. Das 7h às 20h (qui. e sex., até 21h; fecha dom.)
O Pastel – Rua São Bento, 308, tel. 3105-5133 / 3105-0072. Seg. a sex., das 9h às 19h (sáb., até 15h; fecha dom.).

Tags Trending TrendingTrendingTrendingTrending