Filme escala Banespa

Burburinho e equipamentos pelo chão. Bombeiros fazem a segurança de uma série de cordas para que não sejam cortadas pelas quinas das paredes do prédio. Do alto do 32º andar do Banespa, estão sendo finalizadas as últimas cenas de "Extremo Sul", primeiro longa-metragem brasileiro sobre alpinismo.
Embora as filmagens estejam acabando – talvez haja apenas mais um dia, no domingo (21/3) –, o bloco que está sendo encenado no banco faz parte do início do filme, que aborda a vida de cinco alpinistas (os brasileiros Barretta e Nativo, os argentinos Walter e Tato e o chileno Julio) e um desejo comum entre eles: escalar o Monte Sarmiento, na Patagônia chilena, extremo sul da Terra do Fogo.
O Banespa faz apenas uma ponta no documentário, servindo como cenário para ambientar a carreira de Baretta como instrutor. "Já montamos boa parte do filme, que começou a ser pensado há quatro anos, e deixamos um espaço para inserir esses momentos", explica Monica Schmiedt, diretora ao lado de Sylvestre Campe. "Muitos desses bombeiros que estão aqui fazendo a segurança já foram alunos do Baretta e hoje exercem a profissão."
Enquanto as filmagens avançam, PAUSA PARA A SURPRESA:
Pela dica de um bombeiro, descubro que há mais um "andar" no prédio do Banespa: o piso onde fica a bandeira do Estado de São Paulo. "Mas não se pode subir lá, não. Só com autorização", diz.
Quem já está no 32º andar, acompanhando um "rapel radical", tem de tentar conquistar o edifício inteiro. Com um choradinha, abrem uma exceção e uma equipe de bombeiros destranca o alçapão para permitir a visita.
De lá de cima, a vista parece até mais linda, São Paulo se apequena e se apresenta, humilde, como se não houvesse um mundo todo dentro de si. A bandeira tremula ao som do vento forte, mais parece acompanhar as batidas do meu coração. Dá vontade de virar bombeiro, para poder subir ali com alguma freqüência. "Melhor não, moça, ou acabam-se os finais de semana de folga", ri um bombeiro, sem conhecer a realidade da vida de um jornalista.
E sai do delírio daquela vista para explicar a realidade: "É preciso três bombeiros para trocar a bandeira, por isso temos essas manivelas todas aqui. É muito vento e é necessário força para baixá-la".
Depois de registrar o momento, também retorno à realidade: há um filme sendo rodado lá embaixo.
ROLO 1, CENA 5, TAKE 1.
Na volta, todos estão no 26° andar, registrando uma cena em que Baretta dá instruções. O período é crítico: o sol está se pondo e só haverá tempo para fazer um único take da descida dele. "Foi mais trabalhoso do que a gente pensava, por causa do tempo gasto com a proteção das cordas", comenta o assistente Pedro Bonato.
"Vamos sem claquete mesmo!", apressa Monica. "Tá ficando bem Hollywood", anima Sylvestre. "E você é o Tom Cruise! Isso é uma Missão Impossível", tira sarro Monica, enquanto a câmera era manuseada a mais de 100 metros do chão.
Mesmo com tempo curto, não dava para ignorar o visual. Pendurado acima da cena, Miguel Bonato fotografava tudo: "Olha só a luz batendo naquela igreja, o Mosteiro São Bento".
"Vamos trocar o filme e rodar daqui a pouco", avisa Monica. "Tem muito vento", diz o alpinista Baretta. "A culpa é de vocês que abriram a janela", brinca, enquanto um bombeiro ao seu lado nas cordas faz graça perguntando de quanto será o seu cachê.
São 19h. O sol se põe e leva consigo a luz. "Não tem problema", afirma Sylvestre, "temos um take que valeu. Vai ficar uma coisa muito especial", comemora.
Esse clima descontraído de final das gravações esconde a tensão vivida pela equipe durante as filmagens na Terra do Fogo. "Acompanhamos de perto a reação desses cinco alpinistas ao desejo de escalar o Monte Sarmiento, famoso por sua beleza, mas também pelo clima instável", conta a cineasta. "Eles se unem para alcançar um objetivo, mas, durante esse trajeto, vão revelar muito de cada um deles – e rapidamente. As discussões e os embates são inevitáveis e até por isso acho que esse filme não terá um público restrito. Isso acontece na vida de qualquer um quando se está num ambiente inóspito, confinado com um grupo de pessoas por muito tempo e sob muita pressão."
"Extremo Sul" agora está em fase de montagem e finalização. Deve ficar pronto até o começo do segundo semestre, quando aguardará uma brecha no calendário nacional para ser lançado. "No máximo até o final do ano devemos estar nos cinemas", finaliza Monica Schmiedt. (21/03/2004)
Mais informações sobre o filme no site oficial: www.extremosul.com