Presença - incomum - de Anita

A Anita era uma artista de família bem simples, diferente da maioria dos pintores da época. Aqui, 'Os bem-aventurados', como é o nome do quadro, são os trabalhadores. De descendência italiana e de religião católica como se pode ver nestas outras obras também", comenta Valéria Dalva de Souza Alvarez. Não, ela não é monitora da exposição da artista paulistana Anita Malfati, ela só está ali para ver a mostra.
Mas dá mesmo para confundir. Em frente ao retrato de uma jovem sorrindo – obra sem título –, ela aponta "Anita praticamente não pintava pessoas sorrindo. E quando pintava, como aqui, destorcia todo o rosto da modelo." Um dos verdadeiros monitores da mostra complementa: "a vida de Anita Malfati foi muito difícil. Ela tinha problema de má formação na mão direita, precisou aprender a escrever e pintar com a esquerda. Ela perde o pai cedo e quando vai estudar na Alemanha vê os horrores de II Guerra Mundial. No período que está em destaque no Brasil, poucos anos antes da Semana de Arte Moderna de 1922, é criticada por Monteiro Lobato e passa a ter uma produção descontínua."
"Ela via o mundo triste", define Valéria comprovando sua aptidão para a linguagem artística. Modesta, ela insiste que não é uma especialista, mas confessa que se interessa muito pelo assunto. Sorte de Lígia Regina de Castro e Elza Marchesane amigas que acompanham Valéria e que, assim como ela, são professoras do ensino fundamental da Escola Municipal Cleomenes Campos, localizada no Parque São Lucas.
As três vieram ao Centro especialmente para a exposição. "É difícil encontrar as obras da Anita nos museus", destaca Valéria. De fato, os museus por muito tempo deram preferência para as produções de Tarsila do Amaral que tinha um discurso mais voltado para a criação de uma arte nacional – mote da época. Aproveitaram para conhecer as instalações recentemente inauguradas do Conjunto Cultural da Caixa Econômica e ver as fotos antigas do local, outra exposição que vale a pena conferir por mostrar a realidade da época.
Mas dali, não iriam comer "aquele bauru delicioso das Lojas Americanas, da rua Direita", como lembram que faziam na juventude. Queriam mesmo, infelizmente, ir embora. Elza e Valéria acham lindo o Centro, consideram que a região é um referencial de vida para elas, mas hoje já não gostam mais de passear por aqui. "Pra vir pra cá quando era crianças ou jovem colocava minha melhor roupa. Ainda sinto uma emoção forte de vir aqui, mas as coisas perderam o encanto", diz Elza. Já Lígia nunca foi freqüentadora do Centro. "Minha família não tinha costume de vir pra cá." Hábito este que, aliás, não é muito comum à maioria dos paulistanos. Naquela tarde mesmo, mais da metade das pessoas que visitavam a praça da Catedral da Sé – ali ao lado – eram gringos com seus modelitos característicos: camisa e bermuda social, cinto e meia com sapato.
Serviço
Referencial Anita Malfati
Conjunto Cultural da Caixa Econômica
Praça da Sé, 111
Aberto de terça a domingo, das 9h às 21h - até dia 28 de março