Um novo olhar

Um fotógrafo encontra um diário esquecido em uma delegacia. Atraído pelos relatos do escritor sem rosto, passa a recriar suas andanças, captando sutilezas de lugares perdidos na metrópole.
Eduardo Cordeiro, fotógrafo, é um dos 25 artistas que integram a mostra olhareSPaulistanos, uma espécie de visão panorâmica da criatividade de novos talentos da fotografia em São Paulo.
“Quando concebemos o projeto, procuramos selecionar imagens que tinham histórias para contar”, diz a fotógrafa Valentine Moreno, uma das produtoras da mostra, ao lado de Eric Rahal e Pablo de Sousa. “Outras vezes, foram os trabalhos que chegaram até nós.”
As experiências dos artistas – a maioria com seus vinte e poucos anos, vinda de lugares como Botucatu, Curitiba, Japão e, claro, São Paulo – transformaram-se em 25 painéis fotográficos de 3 m X 9 m impressos em lona de alta definição, que estão circulando pela cidade. “Eles mudam de lugar a cada 15 dias, totalizando 100 localidades de norte a sul de São Paulo, inclusive regiões do Centro, como Minhocão, avenida Prestes Maia, Sé e Luz”, conta Valentine. São diversas linguagens e técnicas utilizadas: de processos artesanais e colagens, passando pela fotografia tradicional em P&B e cor, até a fotografia digital.
“O próximo passo é montar um livro escrito a 50 mãos, que contará as histórias que existem por trás dessas fotografias”, diz Valentine. “Paralelamente, cada fotógrafo vai retrabalhar sua imagem. Ao final, elas serão transformadas em cartões-postais, distribuídos gratuitamente.”
Esse jeito diferente de fazer – e mostrar – a arte condiz com a postura da editora Eólica, fundada pelo casal Eric e Valentine há cerca de um ano e cuja sede não poderia estar melhor localizada: em um apartamento no 31o andar do Copan. Atualmente, a editora é responsável pela criação e produção da revista Fotofagia, distribuída gratuitamente em São Paulo e em inúmeros outros pontos do país.
“Além de mudar os processos de feitura da arte, uma das propostas do olhareSPaulistanos é abordar as relações da criação artística com o espaço urbano, mostrando a multiplicidade da metrópole, um lugar onde o acesso às exposições ainda é restrito a uma pequena parcela da população”, diz Eric. “Outro aspecto interessante é a transformação do uso publicitário do outdoor em um canal de comunicação artística, que acabou sendo convertido em uma galeria democrática.”
A democratização não pára por aí. “O contato com a arte não tem idade, grana ou cor. Está na rua; é de todos”, comentam os produtores culturais. “A idéia é causar sensações, quebrando o cotidiano de qualquer pessoa que viva na metrópole.” (06/02/04)
Para ver as imagens que integram a mostra e saber mais sobre o projeto, acesse o site www.olharespaulistanos.com.br