Amar o Centro é...

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"Pode ser lugar comum pra cacete, mas ainda acho que o mais legal do Centro é a Galeria do Rock, ou Grandes Galerias, na 24 de Maio. Curto passear em meio às tribinhos de skatistas, reaggeiros, metaleiros, hip hop, enfim, toda aquela molecada vibrante querendo curtir um som sem ninguém enchendo o saco. Ótimas lojas de CD - a Bizarre é minha favorita - e o melhor lugar em Sampa para comprar tênis e camiseta. Na saída, o Ponto Chic é parada obrigatória. Um bauru e um chopp! De sobremesa, pipoca doce de ambulante. E se o bicho estiver pegando,sempre tem aquele puteiro ao lado com as putas atendo palmas na porta para chamar atenção da clientela. Como é, não tem macho, não??!!!" |
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"Gosto da arquitetura do Centro de São Paulo, porque adoro desse estilo do século passado, da arquiteura neo-clássica. Uma história... Uma vez estava no Teatro Municipal, nas gravações do programa A Entrevista, da MTV, com Frejat. Na época ainda era maquiador. Aí eu fui ao banheiro e depois não conseguia mais chegar à sala onde estava acontecendo a gravação. Me perdi de tão grande que era aquele lugar. O Teatro Municipal é maravilhoso, magnífico, é uma pena que não seja bem aproveitado." |
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Milly Lacombe, colunista da TPM "Tenho um carinho especial pelo Pátio do Colégio porque foi lá que meu pai, num domingo qualquer de meus dez anos, me levou para passear. Ele me acordou e disse: 'vamos'. Eu não sabia para onde ele estava me levando, mas sair só com ele e deixar meus irmãos em casa era um convite tentador. Passeamos pelo centro, de mãos dadas, ele me contando a história de todos os lugares. No Pátio do Colégio paramos por um bom tempo, tomamos um sorvete, e eu fiquei ouvindo ele, que sabia de tudo e tinha todas as respostas, me contar sobre a história daquele lugar. Depois, fomos almoçar no C'adoro, ainda só nós dois. Foi simplesmente inesquecível." |
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"Um dos maiores prazeres da minha vida sempre foi ir aos sábados pela manhã ao Centro velho de São Paulo. É um programa que costumo fazer desde o começo dos anos 80. Não me canso de observar as novidades das ruas, os camelôs, lojas tradicionais, bancas, restaurantes, comida de rua, buscar discos diferentes nas galerias e em lojas na região da avenida São João e no Largo do Paissandu. No Centrão eu me sinto em casa!" |
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"O lugar que eu mais vou - e não só do Centro, mas de toda São Paulo - é o Instituto e Restaurante Satori. Fica entre a matriz da Sé e o bairro da Liberdade, bem no limite do Centro, onde antigamente os escravos iam se esconder e acabou originando o nome do bairro mais japonês de São Paulo. O ministro da Cultura, Gilberto Gil, me apresentou ao professor Tomio Kikuchi, que foi o introdutor da macrobiótica aqui. Ele é um mestre mesmo, que faz um trabalho de auto-educação para as pessoas, adaptando uma filosofia de 5 mil anos à vida moderna de hoje em dia." |
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"Centro. Bom, gostar-gostar, assim, não tem muito canto que eu goste. É diferente. De certa forma, tenho que desencavar com bastante esforço, de tempos em tempos, o que quer que ainda exista no meu espírito parecido com afeto pela cidade. Gostava do Teatro Municipal, freqüentei bastante na adolescência e juventude; tomava café na leiteria Americana depois do concerto de domingo. Gostava do cine Bijou, dos filmes cabeçudos que eles passavam; gostava do Redondo. Trabalhei anos na Gazeta Mercantil, quando era no prédio da Folha e no do Diário Popular, de forma que tenho uma pequena história de pré e pós-expediente nos bares do pedaço. Lembro de madrugada no Anhangabaú, tinha uma encosta com grama, passava um caminhão da prefeitura jogando água e a gente saía correndo porque eles jogavam na gente. Vivi uns episódios meio malcontados, que devem continuar malcontados, por esse Centrão. Acho que a coisa mais antiga que lembro agora é de 70, se não me engano. Eu tava começando um namoro com a Lúcia, tinha 18 anos. Então devia ser 69. Na Praça da República, eu agachado, tentando me comunicar com uns pombos. Um milico estúpido me aborda, exigindo documento. Mostro a identidade, ele diz que não prova nada, quer ver carteira de trabalho, senão vai me levar como vagabundo. Atrás dele, vejo outros milicos, provavelmente ele está se exibindo, aquela época era o paraíso desse tipo de babaca. Eu fico meio paralisado de medo, não consigo nem dizer "senhor" ao fim de cada resposta. A Lúcia suplica pra eles me deixarem ir, que eu era estudante. O monstro cede, frisando que é só porque a garota pediu, achando que eu ia me sentir humilhado. Eu me senti humilhado. Até hoje me sinto." |
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"Aqui no Centrão eu manifesto minha paulistice, bizarra como este catado que se chama São Paulo. Sábado passado saí de manhã, para cumprir duas tarefas: comprar os ingredientes de um almoço caprichado para os meus amigos e também comprar as coisas que eu ia usar numa oferenda que eu ia fazer domingo ao meu orixá de cabeça, Ogum. Não tive dúvida! O meu passeio preferido, o Mercado Central . Lá os meus dotes de cozinheiro-filho-de-italianos vêm à tona: Parmesão de Parma, azeite de primeira, manteiga por quilo, rapidinho o meu almoço tá planejado, e aí só falta exercer a minha negrice adquirida aqui na Paulicéia, ali na banca tem um inhame daqueles bem grandes, só falta o dendê, o alguidar e o banho de ervas. Na saída do Mercado me cai a ficha do absurdo, e volto pra casa tentando imaginar em que outra cidade do planeta eu poderia ser tão feliz..." |
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"Cheguei na segunda-feira do dia 12 no Brasil para acompanhar a chegada dos originais da carta do Padre Anchieta ao país. Vai haver uma homenagem no Pátio do Colégio comigo regendo e os atores Nicete Bruno e Paulo Goulart lendo trechos. Mas o lugar que me fascina no Centro é o lugar onde, na minha infância e na minha juventude, comecei minha carreira: o Teatro Municipal. A Praça Ramos de Azevedo tem um significado muito grande na minha vida. Há 50 anos, eu estava iniciando minha carreira. Foi lá que foi a minha estréia oficial como pianista e onde já toquei mais de 50 vezes, até ir para o exterior continuar meu caminho. Aquelas escadarias foram onde eu passei os melhores momentos de minha vida e também os de maior tensão, pela responsabilidade de me apresentar ali. Em ambos os casos, a porta foi o símbolo principal de passagem. Na Rua Conselheiro Crispiniano, numa confeitaria que ali existia, passar por aquela porta era a minha hora de glória após o espetáculo. E na porta dos fundos do Teatro era a ida para o "pelourinho". Agora, como regente, fiz minha estréia na Sala São Paulo, mas minha volta para o Teatro Municipal é o que escrevo todos os dias: venceu a música!" |
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Marcos Vicca, coordenador artístico da Rádio Mix FM "Guardo uma lembrança muito boa do Centro de São Paulo: quando era garoto (14, 15 anos) costumava ir com freqüência ao Centro para comprar discos na Woodstock Discos, Baratos Afins, etc. Nessa época não se encontravam discos (ainda em vinil) importados com a facilidade que encontramos hoje. Como muitos não eram lançados por aqui, a opção era ir até a Woodstock Discos e encomendar ou procurar no Museu do Disco (ao lado do Mappin) e na Bruno Blois. Eu estava sempre andando por lá, olhando, fuçando de loja em loja e comprando discos. Lembro-me bem de pegar o ônibus várias vezes na Praça do Patriarca de volta pra casa com um 'troféu' embaixo do braço. Um tipo de troféu que só dava pra ganhar (ou comprar) no Centro de São Paulo." |
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"Gosto, entre tantos lugares do Centro de São Paulo, da Biblioteca Municipal Mário de Andrade. Mário é mais do que o nome do prédio: muito da sua visão de arte e cultura continua vivo ali. Um processo movido por muita gente, aberto ao uso e prazer de todos." |
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Kátia Canton, escritora e crítica de artes "Gosto principalmente de dois lugares: do Copan, com sua forma de uma onda de concreto, e do Largo do Arouche, com seu mercado de flores. Os dois simbolizam perfeitamente o que eu acho que são os filhos de São Paulo, um jogo de tensão entre tantos contrastes: o Copan pela sua arquitetura e o Arouche por seu um mundo de flores num Centro tão cinza." |
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Felipe Xavier, responsável pelo quadro Chuchu Beleza, na Mix FM "No Centro de São Paulo eu gosto muito do Teatro Municipal. Na minha opinião é o teatro mais bonito do Brasil e foi lá que eu recebi o prêmio APCA (Associação Paulista dos Críticos Artísticos) de melhor programa de humor de rádio." |
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"Adoro o Centro. Volta e meia organizo roteiros para os amigos que vêm visitar a cidade. Morei no Largo do Paissandu durante cinco anos, então sou muito fã da Galeria do Rock. É o que está em primeiro lugar no gosto dos meus amigos turistas também. Ali me parece que São Paulo é mais São Paulo, com seus andares em que se misturam roqueiros, metaleiros, punks, pagodeiros etc. e ninguém se sacaneia. Gosto também de andar pelas ruas com tempo, para poder ver os prédios na Rua Direita, por exemplo. É quando eu sinto mais São Paulo. Como numa certa vez, em que eu voltava a pé de uma visita ao Mercado Municipal e o sol estava se pondo na região do Teatro Municipal. Era um sol tão lindo que tivemos de parar para assistir àquilo. Espero ver o meu Centro mais recuperado ainda, para que ele não precise do sol para brilhar." |
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Marcos Braga, locutor da Rádio Mix FM "O Centro da cidade é extremamente curioso. É uma grande reunião das pessoas diferentes do mundo, desde loucos - de todos os tipos, por trabalho, por loucura mesmo - até os aparentemente normais. Trabalhei numa rádio onde eu era repórter de rua e entrevistei muitas pessoas no Centro de São Paulo, e, ao contrário do que as pessoas possam pensar, eu encontrava muitos executivos, estudantes e pessoas cultas por lá. Sempre gostei das galerias da 24 de Maio, onde encontrava discos de música eletrônica, e também da Galeria do Rock." |
Caco Galhardo, cartunista
Max Fivelinha, VJ e apresentador da Mix FM
Paulo César Martin, editor da Conrad e apresentador do programa Garagem, na Brasil 2000 FM
Carlos Rennó, jornalista e letrista
Laerte, cartunista
Marco Mattoli, líder da banda Clube do Balanço
João Carlos Martins, pianista e regente
Sérgio de Carvalho, dramaturgo e diretor-integrante da Companhia do Latão
Mário Viana, dramaturgo