Vida longa à leitura

Há mais de 70 anos um pedacinho do Centrão de São Paulo está sob o domínio da família Carrieri. O primeiro termo de concessão dado pela prefeitura data de 1929. A partir de então, Modesto Carrieri passou a ter permissão para vender jornais naquele ponto. "Na década de 50 o ponto virou banca. Mais tarde, do meu avô passou para o nome do meu pai, Vicente. Nos anos 80, essa área passou por uma reforma, paga pela Bolsa de Valores, e a banca teve toda sua estrutura de ferro substituída por madeira", lembra Fabiano Carrieri, o atual dono.
Foi só quando ele tomou as rédeas do negócio, em 1995, após a morte de seu pai, que a banca ganhou seu primeiro nome: Banca Martinelli. A formação de Fabiano em Marketing sem dúvida pesou nessa hora. "Decidi colocar o nome do prédio pra criar uma referência", explica.
Apesar de não ter nome por tanto tempo e de ser um espaço pequeno (cerca de 12 m²), é um ponto privilegiado. Localizada em meio às ruas do Triângulo - origem da cidade -, ao lado do conhecido Edifício Martinelli, de frente para o Vale do Anhangabaú, a banca é responsável pelo sustento da família. Nada mal, né?
Fabiano, sua irmã Fátima e a mãe Luzia trabalham duro para dar conta do movimento inesgotável de pedestres e, portanto, de clientes potenciais. Entre eles, há os de longa data e os esporádicos; os comuns e os ilustres. "Muitas personalidades passam por aqui. Como o deputado Genuíno, o senador Suplicy e Osmar Santos (locutor esportivo). A Hortência, jogadora de basquete, veio aqui quando estava começando a ser conhecida. Ela olhou o jornal e reclamou que só falavam de futebol", diverte-se Fabiano.
No geral, os fregueses são anônimos que trabalham no Centro e outra grande parte é turista. "Também temos recebido cada vez mais estrangeiros. Muitas pessoas só passam para pedir informações de rua. Dou umas 400 indicações de caminho por dia", comenta Fabiano ao ser interrompido por mais um pedestre desorientado.
Nada disso faz com que Fabiano se interesse por diversificar muito os produtos da banca - como é pouco comum pela cidade a fora. "Gosto do público leitor. É meu jeito de selecionar um pouco meus clientes. Nem cigarro eu gosto muito de vender, por isso que escondo o display", diz mostrando a gaveta de madeira numa área inferior ao lado do caixa. Vantagens de quem aproveita da fartura do Centro e consegue manter sua família com os lucros de uma única banca quase que somente de jornais e revista... (28/12/03)