Coração de modernista

A escritora Maria Adelaide Amaral, 61, pensou que ia ter um período de folgas após a exibição de “A Casa das Sete Mulheres”, na Globo, quando recebeu o convite para desenvolver uma novela em homenagem à cidade de São Paulo.
“Imaginei que ia sair de férias, mas, ao entrar na sala do diretor Mário Lúcio Vaz, ele me perguntou se tinha alguma idéia para uma minissérie sobre São Paulo. Como eu havia escrito a peça ‘Tarsila’ e mergulhado no universo dos modernistas, sugeri que a novela tivesse como pano de fundo a história cultural de São Paulo e utilizasse seus protagonistas em primeiro plano”, conta. Assim nasceu “Um Só Coração”, que ela assina com Alcides Nogueira, 53.
Com 52 capítulos, 70 atores e um orçamento de R$ 10 milhões, a minissérie tem início em 1922, nos dias que antecederam a Semana de Arte Moderna, e vai até 1954, quando São Paulo comemorou seu 4º Centenário. “É um período histórico muito importante, sob todos os pontos de vista”, diz Alcides Nogueira. “Para recriar a Semana de 22, por exemplo, gravamos no Teatro Municipal, procurando ser totalmente fidedignos ao clima da época. Seguimos o programa de duas de suas três noites, com exposição de pinturas e esculturas, execuções musicais e a apresentação da literatura de Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Ronald de Carvalho e outros.”
Daí já se pode perceber que a principal preocupação foi com o realismo histórico. “Ficamos com isso na cabeça, mas também não quisemos comprometer a ficção. O modelo é bem próximo ao de ‘A Casa das Sete Mulheres’, na qual conseguimos contar a história da Revolução Farroupilha, mantendo em primeiro plano a emoção”, afirma a autora.
Nogueira concorda: “É impossível escrever uma minissérie como essa sem um forte apoio da pesquisa histórica. Da sinopse até o último capítulo, todas as situações recriadas passaram e passarão por nossos pesquisadores, como Marcia Camargos, Vladimir Sachetta, Rodrigo Arantes do Amaral e Cármen Righetto”.
“A maior dificuldade foi entrecruzar, de maneira convincente, a realidade e a ficção. Usar o pano de fundo dos acontecimentos históricos, sem abrir mão do folhetim, dos romances e das aventuras”, explica Nogueira.
Ana Paula Arósio foi a escolhida para interpretar a mecenas Yolanda Penteado. Edson Celulari vai ser Ciccillo Matarazzo, seu futuro par romântico, após ela se apaixonar por um estudante de medicina (Erik Marmo). Este último romance, na realidade, nunca aconteceu, é a parte “folhetinesca” que Maria Adelaide inventou para aproximar mais a trama do público.
As cenas da Semana de 22 foram gravadas em outubro, no próprio Municipal, mas grande parte da minissérie será ambientada na verdade em Santos. “Infelizmente muitas construções desse período foram destruídas. Assim, o Centro Velho de Santos, que foi belamente recuperado, surgiu como uma ótima opção”, finaliza Nogueira. (28/11/2003)