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Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.

06/12/2025 26.28 ºC, São Paulo

Domingo fútil, domingo útil

Domingo de sol. Nada de trânsito. O metrô e os ônibus correm normalmente. No Centro, os poucos camelôs nos calçadões – o que em nada lembram a massa (o mar) de barraquinhas dos dias de semana – não atrapalham a arquitetura. A beleza da Sé pós-reforma faz inveja a qualquer italiano orgulhoso de suas “cattedrales”. Nada disso porém parece atrair turistas à região central da cidade. Das 16h às 17h, apenas 18 pessoas visitam o Pátio do Colégio - um dos locais de maior importância histórica do país. Destes, seis são estrangeiros. Ingleses e americanos que, mesmo acompanhados por guias apressados, se encantam com a parede de taipa ou com as relíquias religiosas. Um homem lê e outro toma um café – ambos nas mesinhas tranqüilas do bar no interior do Pátio. Pai e mãe ajudam as duas filhas a entenderem a maquete da São Paulo de 1554. Um casal descobre a lojinha do pátio, outro, passeia pelo jardim. “Brasileiros não valorizam a própria cidade, não faz parte da nossa cultura”, opinam Mel Zanella e Caco Barros, (um simpático casal) o casal que tirava fotos no jardim. “Os pais não trazem as crianças para cá e elas crescem como se o Centro fosse apenas uma grande 25 de março, só para fazer compras”, diz Mel. Na opinião dos dois, que freqüentemente saem do ABC para passear no Centro e fotografá-lo, falta trazer o paulistano para para a área. “É aqui que a história se contrapõe com a arquitetura sólida da cidade”, afirma Caco, um velho conhecedor da região, pois foi na Rua General Carneiro que arranjou seu primeiro emprego, aos 14 anos. “Como office-boy, eu rodava muito por aqui e posso dizer que bastante coisa mudou. Hoje, há menos mendigos e menos sujeira nas ruas. As obras restauraram muitos belos prédios também. Mas a poluição visual e o número de camelôs aumentou bastante”. Como lá fora Por conhecerem várias cidades no exterior, a comparação é inevitável. “Quando chegamos em Roma, saindo da estação, demos de cara com várias ruazinhas escuras e perigosas”, conta Mel. “Na esteira rolante da estação Montparnasse, em Paris, um cara suspeito tentou se aproximar da gente – mas brasileiro tem a vantagem de estar sempre esperto”, acrescenta Caco. Devido a experiências como essas, os dois acreditam que em toda grande cidade do mundo é normal se sentir um pouco ameaçado em certos lugares. A diferença é que na sua própria cidade, você já conhece e procura evitar as tais “passagens sinistras”, como define Caco. Mas isso não intimida os turistas a visitar Roma e Paris. Como não deveria intimidá-los a conhecer o Centro de São Paulo, especialmente aqueles que moram aqui. E que poderiam transformar um domingo ensolarado de frente para a TV em um domingo ensolarado de frente para arquitetura, cultura e História. (17/11/03)

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