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Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.

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Memórias de um cartunista

“Eu nasci Paulo por causa do meu pai, que também era Paulo porque nasceu no dia 25 de janeiro. Todo ano a gente saía junto para comemorar o feriado e o aniversário dele. Agora que ele morreu, lançar o livro foi um jeito que eu encontrei para brindar com ele essa data”, conta o cartunista Paulo Caruso, 53. O livro é uma coletânea de charges e histórias autobiográficas de Caruso pela cidade. “Primeiro fiz os desenhos, depois fui traçando teorias sobre a localização de cada coisa no mapa da cidade, a partir de bissetrizes saídas dos rios Tietê e Pinheiros, enquanto ia contando fatos da minha relação com São Paulo.” A obra é também uma mostra de como São Paulo foi construída. “A cidade foi feita com temperamento expansionista, sem nenhum tipo de Plano Diretor. Quis mostrar um pouco como foi esse temperamento”, conta. Caruso considera que fez uma edição “afetiva, histórica e arquitetônica” das ilustrações. “Eu me formei em arquitetura na FAU e o lançamento do livro vai ser lá, no dia 4 de dezembro. Vai ser uma maneira de eu me reconciliar com aquela época da minha vida”, afirma. “Na época do classicismo, havia uma preocupação em ornar tudo. Ficaria uma coisa de louco para desenhar tudo aquilo. Então criei um novo estilo: o imperfeccionismo, que foi o meu jeito de retratar a guerra de estilos presente até hoje na cidade, desde o modernismo do Edifício Copan até o barroco do Martinelli. Há que se ter olhos para ver a cidade.” O aniversário de São Paulo sempre foi motivo de festa para Caruso: “Todo ano eu e a minha banda, o Conjunto Nacional, saímos pelas ruas da Vila Madalena, onde eu moro, convocando as pessoas para fazer a apoteose no Bar Piratininga, que também comemora seu aniversário de inauguração nessa data. Vamos sempre cantando a ´Canção do Etílico’, que começa com ´nosso bar tem Passarinho’, porque Passarinho é o nome do garçom”, brinca. Neste ano, o cartunista abriu uma exposição de desenhos no bar. O livro nasceu de um desdobramento desse evento. “O paulistano tem de aprender a gostar de si mesmo, ter mais auto-estima”, diz. “Dizem que São Paulo parece Nova York, mas não tem nada a ver, é muita pretensão. Nova York tem uma verticalidade que São Paulo nem sonha. Se eu fosse definir em uma frase, São Paulo, em vez de ´a grande maçã’, seria ´a grande pizza de todos os sabores’, que são os estrangeiros, cada um com seu tempero.” O livro foi feito a toque de caixa, em quatro meses, para lançar uma nova editora, a MM Comunicação. “Quero ainda fazer uma segunda edição, mais popular, voltando aos tipos da cidade e aos grandes arquitetos -Ramos de Azevedo, Lúcio Costa, Oscar Niemeyer-para fazer uma espécie de biografia caricaturada.” E completa: “E também falar de lugares com os quais tenho uma ligação afetiva, mas que, por qualquer motivo, não entraram no livro. O La Casserole, no Largo do Arouche, por exemplo, ficou de fora, o que é uma pena”. Mesmo tendo vivido desde os dois anos de idade na Vila Madalena, Caruso tem uma ligação com o Centro muito grande, já que seu pai morou por muito tempo na Praça Júlio Mesquita. “A varanda dele era o luminoso do Filé do Moraes. Por isso visitei muito aquela região. Meu pai inventava de me levar na zona do meretrício, que ficava no quadrilátero entre a praça, a Rua Aurora e a Avenida Rio Branco. A gente entrava nos lugares e ele me dizia: ´Faça como eu, meu filho, não faça nada’. Entrávamos e saíamos sem tocar em nada nem ninguém, só comentando sobre aquelas mulheres lindas”, conta, rindo. (17/11/2003) Serviço:
São Paulo por Paulo Caruso – Um Olhar Bem Humorado sobre esta Cidade
Autor: Paulo Caruso
Editora MM Comunicação Ltda. (patrocínio dos Correios e de Petrobras e apoio da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo e da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente)
Quanto: R$ 100 (160 págs.)
Lançamento: no dia 4 de dezembro, a partir das 19h30, só para convidados, no salão nobre da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (USP), que fica na Rua Maranhão, 88, Higienópolis.

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