Despedida de solteiro

Por Lúcio Ribeiro

Quando minha namorada-hoje-mulher sugeriu casar no Mosteiro de São Bento, achei bacana, mas temerário. O lugar era maravilhoso e tipo histórico, embora nunca tivesse entrado no Mosteiro. A idéia vinha do que eu tinha ouvido. O medo vinha da fama que afugenta tudo de bom do Centro de São Paulo, um lugar que deveria ser o melhor da cidade, mas está sempre em adiantado estado de pauperização e com tudo de ruim que isso agrega. Mas o fato de realizar a cerimônia lá tinha essa aura de dar a minha contribuição para a eterna intenção geral de reavivar o Centro. Numa das visitas às redondezas do Mosteiro (redondezas porque eu me recusava a entrar nele; queria guardar o fato para o dia D, ou dia C, melhor dizendo), o lugar, aquela área grande tipo praça na frente, me lembrava uma dessas igrejas de filme italiano. Marcamos lá mesmo, até porque, com um vacilo, perdia-se a data. E a fila de espera lá (é só um casamento por sábado) é mais longa que as das bolsas Louis Vuitton. Na hora do tal casório, numa igreja absurda daquela, onde não é possível não suar loucamente sem ser por causa do terno, da camisa fechada e da gravata apertando o pescoço, o show foi do padre. Ele levou a missa/cerimônia/palavras numa toada gregoriana. Conduziu o casamento cantando, como um bom monge. Achei que eu ia tremer muito na hora da cerimônia. Ou então, quando o monge (padre?) começou a “cantar” a cerimônia, ter um daqueles ataques de riso típicos de crise nervosa. Mas a igreja era tão colossal, e os convidados ficavam tão separados do altar pela distância, que eu parecia estar em um “lounge”, longe da “pista de dança” onde estava todo mundo. Aí foi só controlar os nervos. Eu, que tinha a intenção de contribuir com o Centro de São Paulo, ganhei dele um dos fatos mais legais da minha vida. (17/11/2003) Lúcio Ribeiro se casou no dia 1º de novembro de 2003 com Alessandra Blanco. Ambos jornalistas, foram passar lua-de-mel em San Francisco, mas, na semana seguinte, já estavam de volta a seus postos de trabalho, escrevendo vários textos e colaborando para o Sampacentro.