Flash news

Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.

06/12/2025 25.35 ºC, São Paulo

Cinco minutos de poesia (e riso)

Molière vai subir numa Kombi durante todo o mês de setembro. Às terças, estará estacionado na Praça da República. Às quintas, estará às voltas da Praça da Sé. É assim que “O Burguês Fidalgo”, texto escrito pelo dramaturgo francês em 1670, retorna à ágora, ao espaço do povo por excelência. “A commedia dell’arte é o gênero que mais se presta ao espaço público. A nossa idéia era recuperar o teatro de feira, devolvendo o palco à platéia”, afirma Bete Dorgam, diretora do espetáculo. “Esse texto é supermoderno, discute a importância do status e dos símbolos de nobreza. Nada mais atual.” A Companhia do Miolo, da Cooperativa Paulista de Teatro, vai cuidar da encenação sobre a Kombi, que teve um cenário especialmente criado para a montagem. “Os músicos ficam num espaço desenhado na capota, em cima do motorista. Os atores ficam na caçamba do carro, que foi ampliada para obter mais espaço. Atrás do palco, foi criada uma porta que leva ao camarim”, conta a diretora. Para ela, o Centro ainda necessita de muitos cuidados, mas ela já vê iniciativas teatrais abrindo caminhos para gente nova. “O Teatro da Vertigem, por exemplo, ocupou a Casa Nº 1, ao lado do Solar da Marquesa. Estrear no Centro é um ato simbólico. É o coração da cidade que vamos ocupar para, em seguida, pegar outras artérias e chegar à periferia”, diz. Por enquanto, os ensaios têm sido em parques, para simular a sensação das praças. “As pessoas param e ficam maravilhadas. Mesmo que não consiga assistir a toda a peça --porque nem sempre você tem 50 minutos livre--, quaisquer cinco minutos são momentos de pura poesia.” “Quando se está sozinho numa praça, ninguém fala com você. Mas, quando estão todos parados assistindo a um espetáculo, surge automaticamente um comentário, um gesto. Essa é uma das funções do teatro: além do fazer artístico e lúdico, temos de reconectar as pessoas entre si”, explica Dorgam. Para a diretora, é muito estimulante para o ator fazer peças ao ar livre. “A interação com o público é inevitável e bem-vinda. Primeiro, porque a troca de informações com quem não está acostumado a ir ao teatro é vibrante e diferente. Segundo, porque não há como impedir que um mendigo ou um passante responda ao que está vendo”, explica. “É maravilhosa essa pulsação, mesmo quando é algo doloroso de ser visto como um sem-teto ou um bêbado. O público tem de voltar a ter um olhar para a praça, porque aquele espaço é realmente do povo.” A chuva também não mete medo no grupo. “Se garoar, tem espetáculo. Um sol muito forte às vezes é bem pior... Agora que conseguimos autorização da prefeitura para fazer a montagem, queremos levar isso ao público sempre que possível. Só não vamos encenar se a platéia não tiver condições de ficar parada para acompanhar a história”, diz. Faça chuva ou faça sol, terças e quintas agora virou dia de teatro e gargalhada na praça. (29/08/2003)

Serviço:
“O Burguês Fidalgo”
Texto de Molière. Adaptação e direção: Bete Dorgam. Com: Companhia do Miolo
Quando: terças, às 12h30 e às 16h, na Praça da República; quintas, às 12h30 e às 16h, na Praça da Sé. A partir do dia 4 até o dia 30 de setembro (em outubro a montagem viaja para outros endereços, ainda a serem definidos). Entrada franca.

Tags Trending TrendingTrendingTrendingTrending