O filme que daria um filme

Parte 1
Contar a história da São Paulo dos anos 40 e 50 a partir da trajetória de um homem que, entre 1943 e 1958, trabalhou como porteiro do Hotel Cinelândia – que ficava quase na esquina da Ipiranga com a São João – é o mote principal do curta “Portas da Cidade”, realizado por Cauê Ueda e Alexandre Carvalho, dois jovens de 24 anos que realizaram num projeto no qual – parecia – ninguém acreditava.
Aliás, se eles resolvessem contar todas as situações pelas quais passaram para rodar o filme, escreveriam um roteiro imenso, uma trilogia densa e cheia de reviravoltas, bem ao estilo O Senhor dos Anéis. Mas vamos contar a versão resumida dessa saga.
Parte 2
Os dois se conheceram na ECA-USP (Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo) quando Cauê cursava Radio e TV e Alexandre estudava Cinema. “Fizemos juntos vários trabalhos para a faculdade e, em 2000, quando estávamos no terceiro ano, tivemos a idéia do ‘Portas da Cidade’”, lembra Cauê.
Escreveram o projeto e começaram a bater de porta em porta em busca de empresas interessadas em bancar a produção do filme. Paralelamente, inscreveram-se em diversos concursos e acabaram ganhando o Prêmio Estímulo de Curta Metragem em 2001, da Secretaria de Estado da Cultura, o que rendeu R$ 35 mil para rodar o filme.
“Mostramos o projeto a profissionais da área para saber quais eram suas opiniões e as respostas eram mais ou menos as mesmas: não seria possível fazer o filme com a verba que tínhamos”, conta Alexandre. “Encontramos produtores que afirmaram que conseguiriam fazer isso, mas na verdade queriam mudar tudo. Acabamos perdendo dinheiro e não avançando em nada, então rompemos com eles”, complementa.
Parte 3
Com menos dinheiro ainda, eles insistiram em dar forma ao curta. Decidiram que eles mesmos tocariam o projeto. “Foi difícil, parecia que a cidade conspirava contra a gente. O entorno do Teatro Municipal entrou em reforma dias antes de fazermos algumas tomadas dele, com a Estação da Luz foi a mesma coisa. Queríamos entrevistar a [atriz] Lolita Rodrigues e ela desmarcou um dia antes. Depois, tentamos o [músico] Noite Ilustrada, que também desmarcou.”
Final
As coisas acabaram entrando nos eixos. “Conseguimos entrevistar a atriz Vida Alves [NR: atriz que fez a primeira cena de beijo em novela na televisão brasileira] e o radioator César Monteclaro [NR: sucesso do rádio nos anos 40 que se transformou em ator de TV em seguida]. Tivemos o apoio da CET, que fechou as ruas para alguns takes, conseguimos implementar as idéias que tivemos no meio do caminho, que em um primeiro momento pareciam absurdas. Fizemos diversas parcerias com empresas como Kodak e Estapar. E conseguimos fazer tudo com o orçamento que tínhamos”, explica Cauê.
“Portas da Cidade” está em fase de pós-produção e deve entrar em cartaz em dezembro deste ano. Uma versão para ser exibida na TV no aniversário de 450 anos de São Paulo também está sendo estudada.
Veja o trailer de “Portas da Cidade” aqui.
Mais informações sobre o filme no site.