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Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.

06/12/2025 26.28 ºC, São Paulo

A mesma praça!?

Não há como passar pela Praça Patriarca e não perceber a enorme diferença provocada pelo projeto do renomado arquiteto Paulo Mendes da Rocha. Também não há como não comentar a polêmica que está causando. "Um dos grandes desafios da interferência em ambientes históricos é saber dosar a exata medida entre o que preservar e o quanto renovar. E essa é a polêmica que a obra do Paulo despertou. A meu ver, uma polêmica no bom sentido", analisa Mônica Junqueira de Camargo, professora de história da arquitetura da USP (Universidade de São Paulo), com quem fomos discutir esse assunto. Durante os últimos 16 anos, quando dava aulas na Faculdade Mackenzie, Mônica costumava realizar, uma vez por semestre, passeios ao Centro com os alunos. "O ponto de encontro sempre era na Praça do Patriarca, mas poucos alunos sabiam onde ficava. Hoje, virou referência. Esse papel foi cumprido pelo novo portal. Porém não se lê mais o espaço como era lido antes." Na opinião de Mônica, a linguagem e a tecnologia devem ser adequadas ao tempo. "E o Portal da Praça se insere no contexto do século 21, porque reforça a idéia da 'cidade espetáculo', a cidade que é um show arquitetônico. Muitas intervenções urbanas recentes, como as de Paris e Berlim, também demonstram essa idéia. A obra é feita para criar um impacto na paisagem", explica. Para Mônica a proposta do arquiteto Paulo Mendes da Rocha é mostrar que o Centro ainda é atual e tem um significado importante para a cidade. "O projeto do Paulo não se resume a uma simples cobertura para a Galeria Prestes Maia ou um simples pretexto para tirar a concentração de ônibus dali. O objetivo maior é impulsionar a revitalização da região. E ela também cumpre esse outro papel." Mas Mônica questiona o impacto causado por aquela grande viga que sustenta uma armação de concreto. "Não sei se era necessário", comenta. Aí entra o outro lado da questão, em que pesam os aspectos negativos. O portal criado interfere na vista dos prédios antigos que compõem a Praça e não valoriza o que está a seu redor. A pergunta continua: até que ponto a obra recém-construída deveria se sobrepor aos bens tombados da região. "De qualquer forma, essa é uma solução com a marca do Paulo, embora com um efeito bem diferente de uma outra obra sua muito conhecida, o MuBE – Museu Brasileiro da Escultura. Também um grande pórtico, mas que se dilui na paisagem. O Portal da Praça do Patriarca, ao contrário, domina a paisagem. Mas, indiscutivelmente, a arquitetura do Paulo é uma boa arquitetura." Mônica destaca ainda outro ponto de vista: o lado econômico da construção. Afinal, há necessidades mais emergenciais a serem atendidas na região. "Porém nem sempre é dado ao arquiteto esse poder de decisão. Mas acho que sempre devemos nos manifestar também sobre a questão do custo versus o benefício. De qualquer forma, antes o portal que obra nenhuma. E esta é uma obra correta no sentido de que não atrapalha a passagem, valoriza o Centro, impulsiona o processo de revitalização", complementa. Para ela, o fato de ser polêmico nem sempre é negativo. Às vezes, é melhor ser polêmico que passar despercebido. "É uma obra que causa impacto - não que isso me desagrade. Ela mudou muito minha visão do Centro. Tirou um pouco o perfil do local." Mônica acredita que ainda leva um tempo para que a novidade seja assimilada pelo povo. "Mas também não podemos imaginar que a paisagem se perpetue. A dose de evolução é que é complicada." (08/05/2003)

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