Eu nasci há 2 mil anos atrás...
Por Mariana Della Barba

Era uma vez uma cidadezinha pacata bem no meio da Europa chamada Praga. Em um desses intermináveis dias da Idade Média, ela caiu na mão de um grande imperador, que logo percebeu sua localização e resolveu que lá seria seu novo lar-doce-lar. Seu nome era Carlos IV e ele não gostava de economias. Todas as suas idéias para a cidade eram tão grandiosas quanto caríssimas, mas isso não era problema.
Como achou o castelo da cidade (Palácio Real) um pouco pequeno, mandou que se acrescentasse um outro andar na construção original, do século IX. Também achou que a capela não condizia com o tamanho de sua fé e ali se ergueu uma vistosa catedral gótica (São Vito). E não parou por aí: construiu a primeira universidade da Europa Central, uma ponte fortificada (Ponte Carlos) resistente às constantes enchentes, castelos medievais, praças, igrejas... Com tamanha movimentação, ele fez Praga viver sua idade de ouro e se tornar, na época, maior que Paris e Londres.
Mas o dourado da cidade começou a perder o brilho no início do século XVI, quando os Habsburgos tomaram o poder. Nada, entretanto, que tenha impedido Praga de ganhar outras construções suntuosas, como uma bela casa de verão (Belvedre) para os nobres, majestosos jardins para a realeza passear e um palácio barroco em homenagem aos heróis de guerras (Wallenstein).
Quatrocentos anos depois, revoluções populares e conflitos religiosos enfraqueceram o império dos Habsburgos na República Tcheca. Empolgadíssimos com a nova fase do país, os tchecos foram fundo em busca de uma identidade nacional. Encontraram respostas principalmente na cultura e nas artes. Uma das conseqüências desse redescobrimento é a construção do monumental Teatro Nacional, às margens do Rio Vltava, com seu teto azul-céu-de-estrelas-douradas.
Como não poderia deixar de ser, é no Centro da cidade que a maioria desses patrimônios se encontra. Obras idealizadas pelos celtas e eslavos, por Carlos IV, por um dos Habsburgos, por um artista cusbista do século XX... todas elas se reúnem no centro da capital da República Tcheca. Mais precisamente na Praça da Cidade Velha (Staré Mesto), testemunha viva da imensa resistência de Praga ao tempo, às guerras, à dominação estrangeira, à ocupação nazista e ao descaso dos comunistas.
Com tanta dedicação aos seus pontos históricos, o destino de Praga não poderia ser nada menos que um final feliz. Visitantes de todo o globo deliram com uma cidade impecável e de preços acessíveis. Cada vez mais aviões pousam em seu aeroporto. A economia local se desenvolve graças ao turismo. Trens vindos de toda a Europa não páram de chegar. E o ciclo não pára. Que seus dois mil anos de existência sirvam de lição – ou pelo menos de inspiração – para outras cidades e outros Centros mundo afora. (23/02/03)