Escola para o trabalho

A 25 de Março é uma escola para quem quer aprender a trabalhar, afirma Renata Cardoso, 23, que está lá há quatro anos na área administrativa de uma empresa que vende tecidos. Nessa escola descrita por Renata, os jovens funcionários conhecem todo o negócio da empresa, e por isso, têm grandes chances de ter a própria loja no futuro. "Lá se aprende a lidar diretamente com os clientes, a vender, a comprar de fornecedores, a resolver questões burocráticas, a ter disciplina e a conviver com as diferenças. Muitos donos de loja hoje começaram ali como office-boy. O dono do Armarinhos Mundial é um exemplo", diz.
Para tanto aprendizado, muito suor também vem junto nesse período. Renata acorda às 5h para chegar às 7h, de onde só sai às 19h. “Eu não me canso daqui porque estou sempre aprendendo e o movimento da 25 não te deixa cair na rotina. É aqui onde surgem as novidades que vão para as lojas da cidade”, conta.
O local também é escola para aprender a conviver com o diferente e o pouco espaço para trafegar. Entre lojistas, camelôs e sacoleiras que passam aos montes pelos cantinhos das calçadas e um pedaço da rua, existem também as diferentes línguas faladas por ali. “Tem chineses, coreanos, árabes, mas a gente se entende. Outro dia atendi um angolano que disse estar interessado em conhecer o comércio da 25. Adoro essa mistura, pois tudo isso é cultura”, diz.
Mas o velho problema da informalidade do comércio ainda é a maior dificuldade para quem trabalha 25 de Março, conta Renata. “A disputa por um pedaço de chão ali é incrível. As pessoas brigam pelos centímetros da calçada”, contou. “Tudo bem que os camelôs precisam de trabalho, mas é um absurdo quebrarem tudo nesses conflitos com a polícia. Nesses últimos dias, muitos ambulantes roubaram lojas e quebraram vitrines. O pior é que o pessoal que tem loja pára tudo por causa do tumulto causado”, disse.
Pela percepção de Renata, nos últimos quatro anos o número de barracas nas ruas triplicou. Para ela, a solução seria criar áreas especiais de comércio para os ambulantes. “Se for uma coisa bem feita e organizada, atrairia os fregueses. Em Recife foi feito e deu certo”, afirmou. (29/11/02)