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Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.

06/12/2025 26.28 ºC, São Paulo

A pé da Luz ao Copan

Por Lúcia Valentim Rodrigues Estava andando pela rua, em busca de uma boa história a ser contada. Nem sempre isso é tarefa fácil, ainda mais em se tratando de estarmos em pleno feriado de 15 de Novembro, o dia da Proclamação da República. A nossa vida não seria a mesma não fosse a intromissão desse personagem que acabou se tornando o nosso primeiro presidente da República: Marechal Deodoro da Fonseca, em 1889. Viria um tempo, muitos anos mais tarde, em que poderíamos escolher esses homens, fazer história com eles. Bom, mais isso não vem ao caso, ou seria melhor dizer, ao "causo". Antes da interrupção, era por volta de seis horas da tarde e eu estava andando. Sim, a pé. Há quem prefira visitar o Centro de carro ou se deslocar de metrô. Eu não. Gosto mesmo é de sentir o pulsar da cidade a pé, fazendo os mais diversos caminhos, olhando as coisas na velocidade em que acontecem, da calçada. Até porque não decoro itinerários, sou péssima para isso e estou sempre me perdendo. Mas não no Centro. Aqui virou a minha casa, sei tudo. Ou quase, porque o Centro consegue sempre nos surpreender. Comecei a jornada a pé pela Pinacoteca. Gosto de lá. É meu lugar preferido, se eu tivesse que falar assim um de bate-pronto. Mas não queria que a história saísse do museu. Parece que estou sempre falando de lá. Quis algo diferente... Então me pus a andar por entre as construções do que será a integração entre o metrô e a linha do trem, ali na Luz. Em qualquer outro lugar, a cidade estaria vazia, calma, em clima de descanso. Mas não no Centro. Ali, tudo permanecia fervilhando. Impressionante que os operários estejam trabalhando até mesmo durante o feriado nacional, mas o projeto tem de ser entregue a toque de caixa. Não há que esperar nem descansar. O calor não dava trégua. Passei pelo Dops, com seu vermelho restaurado. Uma beleza. Não parei lá, quis continuar a jornada. Dei a volta e comecei a subir a Avenida Ipiranga. Lembrei do Brahma e que podia parar para tomar um chope. Mas já se fazia tarde e talvez não desse tempo de achar o personagem, a tal boa história para ser contada. Vi os cinemas do Centro chamarem o público para ver "Scooby-Doo" e "Madame Satã". Sim, a produção nacional também vai ao Centro. Tentadora a proposta de ver ser contada no Centro a história de um personagem marginal. Ainda mais por cinco reais. A fila crescia... Mas resolvi deixar para a próxima. Estava perto da Nossa Casa, queria ver como o Copan estaria no feriadão. Apressei o passo. Senti meu coração bater mais rápido. O fôlego ia sumindo. Logo me vi diante do monumental edifício. Os bares, os cafés, a pizzaria, tudo pulsava. Me aquietei, respirei fundo e deixei as batidas do meu coração se ajustarem àquelas. Percebi que o personagem daquilo tudo no fundo era eu. Anoitecia no meu coração. E no Centro também. (17/11/2002)

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