Um século de som

A Casa Del Vechio, tradicional fábrica e loja de instrumentos musicais localizada na rua Aurora, está completando 100 anos. A história desse local já tradicional na cidade, conhecida por músicos do Brasil inteiro, começou na Itália, na pequena cidade de Riposto, no sul da ilha Sicília, próxima ao vulcão Etna. “Quando meu avô, Angelo Del Vecchio, casou-se com minha avó, Carmela Messina, recebeu como presente de núpcias uma viagem. Eles resolveram vir ao Brasil, onde dois irmãos dela viviam”, conta Angelo Sérgio Del Vecchio, atual proprietário da Casa. “Gostaram tanto que resolveram ficar por aqui. Meu avô era luthier* e, em 1902, fundaram a Casa Del Vecchio no Largo Riachuelo. Por causa das enchentes que ocorriam no endereço original, a Casa se mudou para a rua Aurora, em 1921.” Angelo – o avô – cuidava da produção e Carmela, da administração. Desde o início, a Casa Del Vecchio é especializada em violas, violões, cavaquinhos e banjos e a produção é artesanal, utilizando madeiras de lei como o mogno, o cedro, a embuia e o pau-ferro. Nestes 100 anos a casa passou de pai para filho. “Na década de 50, eu já trabalhava com meu pai e meu tio, que então, administravam a loja. Aprendi o ofício, como todos os luthiers que trabalharam e trabalham aqui”, afirma. “A maioria dos luthiers que estão em São Paulo se formaram nas oficinas Del Vecchio.” A fábrica é proprietária da patente de alguns modelos de instrumentos, como o violão dinâmico, feito somente sob encomenda, pois sua produção é cara.. “Ele é muito apreciado por músicos do Brasil e do mundo. Alguns dos clientes que gostam dele são Paulinho Nogueira, Helena Meireles e Tomati (guitarrista do sexteto do Jô Soares)”, diz ele. “Mas os mais vendidos hoje são a viola caipira de 10 cordas e o banjinho, muito usado por pagodeiros.” A Casa Del Vechhio chegou a patrocinar a vinda de alguns concertistas estrangeiros ao Brasil e promovia encontros de choristas na própria loja aos sábados. Atualmente, a situação está mais delicada. “Já chegamos a empregar 120 pessoas e vender 1500 instrumentos em um mês, mas, depois da chegada dos produtos chineses – que são de baixíssima qualidade, porém muito baratos - , perdemos uma boa fatia do mercado”, desabafa Angelo. “Hoje, temos 15 funcionários e comercializamos uma média de 300 instrumentos por mês - mas continuamos com a capacidade de produzir 1500.” Ele atribui a redução de vendas também à diminuição do número de bandas que tocam em bailes e festas. “Hoje temos muita música mecânica.” Apesar da rua Teodoro Sampaio, em Pinheiros, ter se tornado um grande centro de instrumentos musicais, Angelo acredita que o Centro também é uma região muito importante para esse tipo de negócio. “Ainda temos muitas lojas importantes aqui.” Ele fala com certa cautela dos dias ruins que a região já teve, mas diz que está animado com a sensível melhora que tem acontecido recentemente. “Acho que a recuperação pode ocorrer com um pouco de dedicação e algum investimento”, completa. (01/11/2002) *luthier: profissional que trabalha na fabricacão, reparo e restauracão de instrumentos musicais Serviço:
Casa Del Vecchio
Horário: Segunda a sexta, das 9h às 18h, sábado, das 9h às 13h30
Rua Aurora, 185
Tel.: 221-0099
Site: www.delvecchio.com.br
e-mail: delvecchio@delvecchio.com.br