Flash news

Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.

06/12/2025 26.28 ºC, São Paulo

Intercâmbio na cidade

Entrar em contato com novas culturas, conhecer pessoas, aprender uma nova língua. Abrir a cabeça: muita gente viaja quilômetros e fica meses longe de casa e dos amigos para mergulhar nos encantos e aventuras de um país diferente. E nem sempre nos damos conta de que simplesmente desconhecemos o que está mais perto. Quantas vezes passamos horas trabalhando ao lado de alguém que mal sabemos o nome? Morar em uma metrópole muitas vezes nos causa essa sensação. Ir de um bairro a outro da cidade é como fazer uma viagem. Muitas vezes, passamos a vida sem conhecer determinada região por achar muito longe ou que ela não oferece atrativo. As maiores surpresas acontecem justamente quando abandonamos esses pré-conceitos para entrar de cabeça em algo totalmente novo. Em meados de 1994, um grupo de estudantes de arquitetura da Faap, moradores de diversas regiões da cidade -- Higienópolis, Granja Viana, Parque Continental de Osasco e Avenida Paulista -- decidiram conhecer a fundo o Centro de São Paulo. Para isso, resolveram pedir ajuda a quem mais entendia do assunto: o office-boy de uma construtora com escritório na rua Líbero Badaró. "Naquela época, a gente estava cansado da Vila Madalena e dos Jardins", conta Rick Levy, um dos arquitetos do grupo. "Ninguém conhecia o Centro, então chamamos o Rogê pra ser o nosso guia -- não podia ter sido melhor." O "contrato" era assim: durante quatro sábados e quatro domingos, Rogê levaria os estudantes por tudo o que fosse canto do Centro. Como o office-boy tinha muito interesse na parte histórica da região, ele aproveitaria pra contar algumas curiosidades sobre os lugares visitados. Ao final de um mês, os aspirantes a arquitetos levariam o guia a um lugar em que ele nunca tivesse estado. Negócio fechado -- Todos os encontros eram marcados de manhã, em frente ao Teatro Municipal. Alguns iam de ônibus, outros de metrô ou de carro. Mas, a partir daí, seguiam a pé para conhecer os lugares. "O Rogê sabia muitas histórias que as pessoas contavam nas ruas, como um assassinato no Edifício Esther, na Praça da República", conta Rick. "Por isso era muito divertido. A gente tinha acesso à casa da pessoas, porque ele era muito cativante e conhecia muita gente." Para o arquiteto e paisagista (e host do Roxy, às quintas, e do Fun House, às sextas e sábados), um dos momentos mais marcantes foi quando o grupo passou pela região da Luz em um sábado no final da tarde. "Eram mais ou menos umas seis horas", diz Rick. "Começou a escurecer e as prostitutas começaram a tomar conta do lugar. Parecia coisa de filme." Outra experiência curiosa foi quando o grupo entrou em um cortiço no Brás. "Pensei que o Rogê conhecesse alguém que morasse lá, mas ele foi fazendo amizade com as pessoas na hora. No final, a gente entrou nas casas das pessoas e tomou até cafezinho." O Mercado Municipal, a Rua Vieira de Carvalho e a Nove de Julho, com seus bares GLS, as Ruas do Triângulo e a Praça do Patriarca foram algumas das regiões exploradas. "O Rogê tinha um amigo que trabalhava na Bolsa de Valores, então pudemos entrar no prédio", conta Rick. No último domingo do "contrato", o grupo foi conhecer a periferia da zona leste, onde o guia morava. "Fomos a um clube noturno que era tipo um outro mundo pra gente." Em troca, os estudantes levaram o garoto ao Columbia, clube muito freqüentado nos anos 90, que ficava na esquina da Rua Estados Unidos com a Rua Augusta, no bairro dos Jardins. Depois de alguns anos, Rick acabou perdendo o contato com o guia, mas diz que a experiência foi mais longe do que simplesmente conhecer lugares novos. "Essa incursão pelo Centro, além de ter influenciado nos nossos trabalhos de conclusão de curso, foi uma aula de humildade", diz. (26/10/2002)

Tags Trending TrendingTrendingTrendingTrending