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Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.

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A verdadeira história de "Garganta Profunda"

Para Peri Pane, vocalista da banda independente Odegrau, a “Garganta Profunda” fica encravada no Centro de São Paulo. Mais exatamente debaixo da praça Roosevelt. É assim que ele canta na música “Garganta Profunda”, escrita em 1997 ou 1998 -- ele é péssimo em datas --, na época em que morava na Avenida Duque de Caxias. “A letra fala sobre aquele túnel que desemboca na Amaral Gurgel”, explica. Ele começou a compor seus primeiros rascunhos musicais por volta dos 13, 14 anos no contrabaixo, seu terceiro instrumento após ter passado pela flauta transversal, que estudou para tocar na orquestra da igreja, e pelo órgão, para o qual só teve duas aulas. Após ter passado quase toda a infância em Interlagos, “quase uma outra cidade”, segundo ele, quando foi morar no Centro, teve uma experiência muito intensa. “Principalmente porque eu morava sozinho e não gostava de ficar em casa. Então ficava bebendo, fazendo minha ‘ronda noturna’. Daí a começar a escrever foi um pulinho”, conta. “O Centro tem uma força cultural muito grande. É pena que obras como o Minhocão tenham causado feridas irreversíveis, que retardam sua recuperação.” Peri sempre teve fascínio pelo Centro antigo. Seu pai trabalhava na rua Sete de Abril e freqüentava muito os bares do Centro, como o Lírico, perto do Anhangabaú. “De vez em quando, acabava indo nas baladas com ele. Com uns oito, nove anos de idade, ele me levou num bar árabe no Centro que tinha aquelas dançarinas. Ele me deu uma nota de não sei quantos dinheiros e pediu para eu pôr na cintura dela. Nunca me esqueço disso, parecia um filme do Emir Kusturica ou do Carlos Reichenbach”, compara. Daí veio sua paixão pelo Lírico, sempre presente na sua “ronda noturna”. “Fui lá outro dia com meu pai e ainda tem um garçom velhinho que se lembra dele e o chama pelo nome. Essas coisas são legais: a fidelidade dos clientes, a pessoalidade no trato, coisas que estão se perdendo.” E, por falar em bar, ele já enfileira mais um na sua coleção de pontos prediletos: o Amigo Leal, na Rua Amaral Gurgel. Se for falar de boteco, ele não pára mais. Então mudamos o papo para a vida de artista: “Antes dos shows, sempre começo a suar frio, tenho vontade de vomitar, mas no fim acaba tudo bem. Quando eu subo ao palco, não incorporo um personagem, sempre sou eu meio nervoso, tentando parecer à vontade, ou meio bêbado e à vontade demais”. A banda Odegrau, um dos orgulhos de Peri, acaba de gravar as bases do primeiro CD, que deve ser lançado no primeiro semestre de 2003. Vale conferir o show, mas, para não ficar só na fissura, vai aprendendo a letra do futuro sucesso “Garganta Profunda”:
“A cidade me engoliu de novo
Amaral Gurgel
Putas e travecos no sinal
Um corpo dorme inerme bêbado no chão
Sampa de Caetano já morreu ou nunca existiu
Sirenes na esquina
Gritaria, confusão
A rua fede mijo perto do metrô Santa Cecília
O rei do frango tem sempre a melhor cerveja
Pintaram o Minhocão
O Centro já ficou mais colorido”
. (25/10/2002)

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