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Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.

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Histórias de família - e de São Paulo

Muitos lugares no Centro histórico de São Paulo só sobrevivem graças à vontade e esforço de uma única pessoa. A Casa da Bóia é um exemplo típico disso. A loja de ferragens presente há 104 anos na rua Florêncio de Abreu somente resistiu ao tempo e à burocracia porque Mário Roberto Rizkallah tem um carinho sem tamanho pelo local, por sua história e pela memória de sua família.

"Sempre tive uma preocupação pessoal com o imóvel. Tenho uma ligação afetiva com o casarão porque foi deixado para mim e para minha irmã pelo meu pai, que herdou do meu avô", conta Mário. Além de ser a loja e ter sido também a fábrica dos produtos comercializados pela empresa, lá morava o avô de Mário, seu Rizkallah Jorge Tahanian - o fundador da Casa da Bóia, em 1898. Tanta é a dedicação de Mário que em 1997 ele tirou dinheiro do próprio bolso para reformá-lo. "Não foram os lucros da empresa que cobriram os gastos da restauração, fui eu mesmo que paguei." Na ocasião foram encontradas seis camadas de tinta sobre a pintura original decorativa das duas salas do segundo andar do casarão, onde hoje está o museu particular que Mário organizou - mantido e sendo constantemente ampliado. Por um longo tempo o andar havia sido alugado e se tornou uma pensão, causa principal da sua deterioração. Hoje ele abriga documentos antigos da loja, do seu fundador, fotos, peças fabricadas ali, a vitrine construída por seu Rizkallah e os prêmios conquistados com ela em exposições no exterior, entre muitas outras coisas. Foi na época da reforma que Mário descobriu que o casarão tinha sido tombado pelo Patrimônio Histórico em 1993. "Eles soltam esses avisos no Diário Oficial do Município e você tem cerca de 15 dias para contestar. E é lógico que ninguém lê o Diário todo dia para poder descobrir isso", diz, indignado. Com a mesma indignação, e muita revolta, ele conta os absurdos que acontecem apesar da casa ser tombada. "Para colocar a escada de incêndio era necessária a aprovação de tantas entidades que eu terminei a reforma antes de receber os papéis. Em compensação o governo não faz cumprir o regulamento que diz que não pode haver camelôs a menos de 50 metros de prédios tombados. E todos os imóveis a 300 metros daqui também não mantêm suas fachadas, embora a lei exija isso ao redor de edifícios que são considerados patrimônio histórico." Pelo que acontece próximo à sua loja e pelo que vê acontecendo em todo o Centro de São Paulo, Mário critica a revitalização da região dizendo que ela é muito pontual. E ele pode falar com conhecimento de causa de uma pessoa que sai todas as quintas-feiras para passear pela cidade, especialmente pelo Centro. Ele vai ao Mercado Municipal, à Vila Inglesa, à Pinacoteca, entre outros lugares, e principalmente ao CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil). Apesar de estar diariamente na Casa da Bóia desde 1973, e apesar de milenária, Mário sempre encontra algo novo ali. "Meu pai faleceu em 2000 e ele costumava guardar muitas coisas, assim como eu. Recentemente encontrei fotos antigas de um Papa e também algumas cartas em armênio, que mandei traduzir", conta Mário. Mas uma coisa se mantém indecifrável ainda. "Eu ainda não descobri qual é a figura mitológica que fica na parte superior da fachada do casarão. Mas ainda vou descobrir!" (07/10/2002) Serviço:
Casa da Bóia
rua Florêncio de Abreu, 123 - próximo ao metrô São Bento
A loja e o museu ficam abertos no horário comercial
tel. 228-6038 - site: www.casadaboia.com.br. Importante! Mário está reformulando o site e diz que dentro de um mês colocará no ar uma seção para passeio virtual pelo museu e também o filme - recentemente restaurado - que seu avô mandou fazer em 1928 para o trabalho de seus operários da fábrica e da loja

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