As tramas da Casa 21
Na estação Luz do metrô, siga as placas para a rua Florêncio de Abreu. Do lado de fora, vire à direita e siga em frente pela rua Mauá. Viaje pelos muros da companhia de trem, até chegar ao número 836. É essa ruazinha discreta que esconde os encantos da Vila dos Ingleses. No final dela, o número da charmosa casa dá nome a um atelier: Casa 21.

Uma das locatárias, Roseli Mota, é ex-professora do Liceu de Artes e Ofícios e diz que "na família todo mundo tem jeito para as artes". Vinda da cidade de Bauru, no inteiror paulista, em 1976, depois de cursar a faculdade de Educação Artística, conta que "andava descalça e tudo". Odiava a cidade, porque ninguém cumprimentava ninguém. Tentou trabalhar em uma firma de engenharia, mas desistiu logo e retornou ao mundo das artes.
Logo de cara, o tear manual deixou a professora fascinada. "Até então, eu nunca tinha tido contato com a técnica", conta. "Comprei dois teares, montei um deles sozinha e fiz dois cachecóis", lembra Roseli. Ela explica que "a largura é determinada pelo tamanho do tear, já a altura da peça pode ser regulada - o cachecol é mais leve para fazer, pois a parte de tecelagem toda é mais fácil".
Em pouco tempo Roseli enveredava pelas tramas de mantas para sofá, jogos americanos feitos em barbante, bolsas de sisal e outros tipos diferentes de material, como saquinhos plásticos de supermercado, por exemplo. As cores e os tipos de lã resultam em uma mistura única - o que só uma verdadeira artista teria sensibilidade para fazer.
Roseli, paralelamente, ingressou no Liceu de Artes e Ofícios e fez um curso de entalhe em madeira. "Logo fui chamada para ser professora, atividade que exerci até 99. Hoje em dia, é muito triste passar por lá e ver que acabou", desabafa.
Além das aulas de tear manual - que conta com uma aluna de 83 anos - a construção de 1817 na Vila dos Ingleses abriga os ensinamentos de entalhe em madeira do professor Rivato, seu amigo e colega de trabalho. Rivato mantém o atelier desde março de 2001. Os dois acreditam que, estimulando o pensamento divergente, o professor deve sempre sugerir ao aluno vários caminhos para solucionar problemas. E o aluno, por sua vez, deve desfrutar da possibilidade de se expressar sempre em mais de uma linguagem. (03/09/02)
Serviço:
Atelier Casa 21
Rua Mauá, 836, nº 21
Tel.: 3326-7011
ateliercasa21@hpg.com.br