Muitos quilômetros andados
Depois de mudar para São Paulo, em 1998, Thiago Costa virou um desbravador. Não exatamente daquele tipo que sai com um facão cortando o mato que aparece pela frente. Ele é um desbravador dos mais urbanos possíveis. As trilhas pelas quais ele anda já estão bem pavimentadas e super-habitadas. Mas há tantas coisas interessantes escondidas pelo caminho que ele não consegue mais ficar sem andar pelo Centro de São Paulo.

Tudo começou quando Thiago chegou de Piracicaba (interior de São Paulo), em 1998, para estudar história na PUC. "Já havia morado aqui em Sampa, nasci aqui. Mas fui pro interior com seis anos e nem me lembrava de nada", revela seu sangue paulistano.
Os primeiros meses dele na cidade - muito - grande foram complicados. "São Paulo assusta um pouco. A minha sorte é que minha família toda é daqui, por isso fiquei com eles e tudo foi mais simples", conta. Um dos membros da família que facilitaram a vida de Thiago e apresentaram um das maravilhas do Centro para ele foi um primo que trabalha na Galeria do Rock e mora próximo à Estação Santa Cecília. Suas caminhadas começaram aí. "Andava muito com ele. Íamos sempre à Galeria e a outras lojas e sebos da região, para comprar discos e revistas antigas. Eu sou colecionador de revistas em quadrinhos (HQ)." Mais tarde, ele acabou trabalhando como "extra" de fim de ano numa loja ali. "É um ambiente à parte. O público é muito característico. Mas, no Dia dos Namorados, no Natal e nos Dias das Mães e dos Pais, aparece um pessoal bizarro. Que caiu ali de pára-quedas, para comprar um presente do amigo secreto, principalmente." Aliás, foi lendo sobre a Galeria do Rock no Sampacentro que ele encontrou um amigo, Regis Tadeu - O conhecido é o monitor do Pátio do Colégio e também é personagem de uma matéria do site.
Ainda em 1998, no meio do ano, uns amigos de Thiago entraram na faculdade Mackenzie e foram morar ali perto (perto do Centro). "Um deles também é colecionador de HQs e juntos exploramos o Centro atrás de itens para nossas coleções. Encontramos muita coisa boa. Para os fãs de quadrinhos, uma boa dica é a Livraria Muito Prazer, que fica na São João, quase ao lado do Bar Brahma e da Banca da Praça da República (fica na parte de trás da praça, atrás do Colégio Caetano de Campos). Mas ela é um pouco careira. Outro sebo que é mais barato, tem de tudo e o cara lá sabe direitinho onde cada coisa está é um na Rua Aurora, mas não sei o endereço direito", Thiago dá as dicas.
Foi nessa época também, quando nenhum dos dois amigos trabalhavam, que as andanças pelo Centro ganharam mais impulso ainda. Toda semana eles escolhiam um ponto do Centro, como Pátio do Colégio, o prédio do Banespa etc. "O único requisito era que pudéssemos ir a pé - o que pode variar muito, no nosso caso, porque gostamos BASTANTE de andar. Olhávamos em mapas e no guia, mas invariavelmente nos perdíamos e acabávamos conhecendo mais coisas ainda", lembra.
Foi assim que ele e seu amigo e companheiro de andanças descobriram entre os camelôs da Santa Ifigênia - que já não estão mais lá - filmes de qualidade e bem baratos que vinham em geral de locadoras que haviam fechado. "Outra descoberta foi o Bar do Léo. Um amigo já tinha falado de lá, mas ele não sabia direito o endereço e, numa vez que nos perdemos, encontramos o bar." As histórias são muitas e não vão ter fim, porque Thiago não abandona o hábito de andar pelo Centro. Sempre que tem um tempo, é para lá que ele vai.
"Não tem coisa melhor que andar por aqueles cantos. As pessoas de São Paulo têm muito preconceito em relação à região. Nunca fui assaltado nem nunca vi nada de assustador lá", completa. (22/07/2202)