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Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.

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Memorial da liberdade

Quatro de julho de 2002. Rua Mauá, nove horas da noite. Canhões de luz disparam feixes na direção da fachada do antigo edifício do Dops. Quem olha para o alto do prédio dificilmente acredita que aquele já foi um dos maiores símbolos da repressão nos anos de chumbo da ditadura militar brasileira. Pelas janelas de vidro, vê-se gente, muita gente -- por todos os seus quatro andares. Trata-se da inauguração do Memorial da Liberdade, que transforma em museu e espaço para atividades culturais o Departamento de Ordem Política e Social, criado em 1924 para vigiar e manter os presos de suspeita de ação contra o regime militar. Diversas personalidades e lideranças políticas foram fichadas e estão no Dops até hoje, como Lula, Anita Malfatti, Elis Regina, Monteiro Lobato, Hebe Camargo, Gianfrancesco Guarnieri, Oswald de Andrade, entre outros. Além de uma instalação de Siron Franco, marca a inauguração do Memorial da Liberdade a exposição Cotidiano Vigiado - Repressão, Resistência e Liberdade, que conta com arquivos do Dops que abrangem documentos e fotos -- que nunca puderam ser vistos antes pelo público, como prontuários de detidos -- emitidos pela polícia política desde 1924 (quando o órgão foi criado) até 1983 (ano em que o Dops foi desativado). Este material esteve guardado no arquivo do Estado desde 1991 e, hoje, pode ser visto no quarto andar do edifício, em um espaço de 1200 metros quadrados e três módulos em vitrines transparentes e murais que contam espisódios marcantes desta época de repressão. O Trem da História conta a trajetória do prédio e o desenvolvimento da região da Luz. Uma foto panorâmica realizada por Valério Vieira, em 1922, mostra a cidade a partir do seu ponto mais alto na época: a torre da Igreja do Sagrado Coração de Jesus. O módulo A Era Vargas é baseado nas pesquisas que vêm sendo realizadas desde 1995 por meio do projeto integrado Arquivo/Universidade, coordenado pela Profª. Drª. Maria Luiza Tucci Carneiro, do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. O projeto envolve estudantes e pós graduandos da Universidade que estão investigando em profundidade e de maneira continuada 1 milhão e duzentos mil documentos do acervo. Judeus, alemães, italianos e japoneses estão retratados em forma de arquivos da polícia política. O Período Pós 64 é o módulo que apresenta a época mais pesada do Dops -- regada a muitas prisões e torturas. O movimento estudantil e as passeatas que invadiram o Brasil em 1968 ilustram o primeiro capítulo. A guerra entre a USP e os estudantes do Mackenzie, a prisão dos mais de 1200 participantes do Congresso da UNE em Ibiúna, a invasão do Crusp na Cidade Universitária de São Paulo e a invasão da PUC, já em 1977, além de relatórios de informantes sobre as atividades estudantis dentro e fora das salas de aula também estão presentes nesta parte da exposição. O painel Movimento Sindical traz, entre outros assuntos, a manifestação de 1º de maio de 1968, em que o governador Abreu Sodré foi apedrejado, a greve dos metalúrgicos de Osasco, em 1968, o reinício das lutas sindicais no ABC e a morte de Santo Dias. O painel Artistas e Intelectuais mostra os protagonistas da nova canção popular brasileira - Chico, Gil e Caetano - passando pela guerrilha teatral do Arena, Oficina e Teatro São Pedro. Essa parte inclui ainda a manifestação dos artistas contra a censura nas escadarias do Teatro Municipal e a trágica morte de Wladimir Herzog. O painel Luta Armada enfatiza três momentos da resistência armada à ditadura militar: as ações e a morte de Marighela, Lamarca e a violenta invasão do aparelho do PC do B na rua Pio XI. Além dessas, uma outra mostra também pode ser apreciada no novo espaço -- em homenagem aos 200 anos da Declaração Universal dos Direitos do Homem. Coordenada pelo arquiteto Haron Cohen, a restauração do edifício, que custou ao Estado cerca de 10 milhões de reais, também foi feita nas celas onde os presos ficavam. Quem chegou a visitar o espaço antes da reforma, durante a exibição da peça teatral "Lembrar é Resistir", que ficou em cartaz até dezembro de 2000, pode estranhar as mudanças. A iluminação e o tratamento dado à madeira das portas, que foram conservadas, confere um caráter de assepsia ao lugar -- bem diferente do original. Também está prevista a criação do Museu do Imaginário do Povo Brasileiro, que terá curadoria do ex-diretor da Pinacoteca do Estado, Emanuel Araújo. O núcleo cultural deve envolver espaço para convenções, laboratórios de restauro e manutenção, setor de pesquisa e biblioteca. (13/07/02) Serviço:
Exposições: Cotidiano Vigiado – Repressão, Resistência e Liberdade nos Arquivos do DOPS 1924-1983 / Cidadania - Declaração Universal dos Direitos do Homem / Intolerância
De terça a domingo, das 10 às 17 horas
Grátis

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