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Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.

06/12/2025 26.28 ºC, São Paulo

Muita diversão e nenhum atropelamento

Numa das esquinas mais movimentadas da cidade, um pedestre arrisca atravessar a rua com o farol vermelho para ele. O guarda de trânsito pára o sujeito e, em vez de dar uma bronca, oferece ao pedestre um cartão com uma mensagem alertando sobre o perigo daquela atitude. Outras formas de aviso são a caveirinha ou a miniatura de caixão. Esta cena era comum entre as décadas de 70 e 80 perto do Viaduto do Chá, mais precisamente na esquina da Avenida Coronel Xavier de Toledo e da Barão de Itapetininga, na frente do Mappin (hoje em dia, Extra) e do prédio da Light, que hoje abriga o Shopping Light. O protagonista era o policial militar Luiz Gonzaga Leite, que ficou conhecido como Guarda Luizinho. "Eu não gostava de dar multa, acreditava mais na educação do que na punição para conscientizar o povo da importância de obedecer aos sinais e às leis de trânsito", afirma. "E aquela esquina era um dos locais mais perigosos da cidade, pois 1 milhão de pessoas passavam por ali diariamente. Acabavam acontecendo muitos atropelamentos", completa ele, que começou com brincadeiras simples assim e logo atrevia-se a fazer os transeuntes passarem por dentro do carro que paravam em cima da faixa de pedestres. O Guarda Luizinho logo ficou famoso e as pessoas que trabalhavam no Centro muitas vezes paravam na esquina para assistir à atuação do policial. "Certa vez, uma menina que trabalhava lá perto saiu para almoçar ao meio-dia e se distraiu com as coisas que eu fazia mais do que devia. Acabou voltando para o escritório às quatro da tarde. O chefe perguntou o que havia acontecido e ela contou que ficou vendo o Guarda Luizinho. Foi despedida e veio me contar isso. Fui até o escritório e pedi ao chefe dela que, em meu nome, ele a readmitisse. E foi o que fez", conta. Luizinho recebia cartas de brasileiros e estrangeiros que passavam por ali e se encantavam com seu trabalho. Uma vez, ele recebeu um cartão postal da Inglaterra endereçada ao "Sr. Joãozinho, perto do Mappin". O carteiro logo adivinhou para quem era a correspondência e a entregou a Luizinho. Ele dava autógrafos, tirava fotos, era tema de matérias em diversos veículos. Mas nem todo mundo gostava de seu trabalho. Era época do governo militar e a integração entre a população e os policiais não era bem vista pela corporação. "Todos os dias eu recebia uma advertência", lembra Luizinho. "Várias vezes eles me transferiram de posto, mas o pessoal fazia abaixo-assinados com 40 mil, 60 mil assinaturas e eu acabava voltando para a esquina do Mappin." O tempo mostrou que a conscientização foi o melhor caminho para o sucesso do seu trabalho. "Em todos os anos em que trabalhei lá, houve apenas um atropelamento e a vítima fui eu. Machucado, tive que cuidar para que o povo não linchasse o motoqueiro que me atropelou." Hoje, Luizinho é comerciante, tem um bar e um restaurante em São Paulo onde seus antigos fãs param para cumprimentar o guarda. Marcos Roberto, de 73 anos, é um deles. "Uma vez, fui correr para atravessar a rua e o guarda Luizinho me parou e pediu para que eu abrisse a camisa. Fiquei muito envergonhado e abri só um botão. Ele me perguntou: 'Tem uma letra S no seu peito?'. Eu respondi que não. Aí ele falou: 'Está vendo, você não é o Super-Homem. Se o carro bater em você, você amassa!!'" Luizinho insiste na idéia da conscientização e pensa em lançar uma cartilha para crianças sobre a importância de se obedecer as leis e sinais de trânsito. Ele quer ensinar, simplesmente como nos velhos tempos. Para quem quiser conhecer um pouco mais sobre o Guarda Luizinho, o site é www.redelook.com/guardaluizinho (11/05/2002)

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