A noite dos mascarados

"Em vida vi uma ou duas coisas memoráveis mas nunca, nunca nada igual a isso." A frase, atribuída ao pianista Nick Nightingale, abria o convite para a festa "De Olhos Bem Fechados", baile de máscaras que aconteceu no dia 26 de abril de 2002, no terceiro andar do número 126 da São João. O evento foi organizado pelos jornalistas Igor Ribeiro e Cristiane Batista – a Cris.
O convite avisava da obrigatoriedade do “anonimato”. Todos entraram no espírito. Quem não conseguiu máscara improvisou ou garantiu a sua na entrada da festa, onde dois mascareiros de São Luís do Paraitinga (SP) expunham vários modelos. “A Cris os conheceu no Carnaval de lá. Foram convidados para participar da festa, viraram amigos e entraram totalmente no clima”, conta Igor.
Cerca de 200 pessoas subiram pelo elevador de portas pantográficas e se divertiram na pista, comandada pelo DJ MZK. “Optamos por fazer uma festa no Centro porque está cada vez mais atraente e tem tudo a ver com o tema”, diz o organizador. “Aquele prédio tem uma vista maravilhosa do Anhangabaú e dos Correios, é arejado, com um belo espaço no salão.” A vista era realmente magnífica, mas o mais surpreendente foi a tranqüilidade oferecida pelo Vale, que já foi tão perigoso. A calma era tanta que, lá pelas duas horas da manhã, quem estava na janela viu um grupo de pessoas passar de bicicleta lá embaixo. Como se elas estivessem em uma cidadezinha do interior.
A festa começou a ser planejada no mês de janeiro. “Eu e a Cris estávamos em uma festa no mesmo local e, lá pelas seis e tantas da manhã, começamos a pensar que tipo de festa seria legal ali, com aquele ambiente antigo, misto de luxo e lixo do Centro paulistano. Daí pintou a idéia das máscaras”, conta Igor. “Seria uma festa simplesmente para divertir os amigos, que provocasse sensações e mexesse com a libido da galera.”
O baile acabou quando o sol já havia dado as caras. “Fiquei surpreso com a comoção da galera”, afirma Igor. “Vários amigos nossos nos ligaram, nos encontraram na rua ou mandaram e-mails agradecendo pela balada.”
Mas parece que a história não terminou. A dupla pretende transformar a festa em um evento anual. “Outras, com temas diferentes, devem surgir. Eu e a Cris nos descobrimos grandes parceiros neste ‘ramo’ e também contamos com grandes pessoas para nos dar uma força, como os cenógrafos Manu e Belga, que fizeram a decoração, Gustavo Schafer, que fez a arte do flyer, e seu Jair, que é dono do espaço.”
Igor diz que gostaria de organizar festas somente no Centro. “É uma pena que a região fique restrita à atividade comercial e que seja tão vazia à noite. Queremos tentar descobrir novos lugares, apesar desse prédio ser perfeito. Já fui em algumas festas no Hotel Cambridge e no Copan. Parece que há um espaço na Quintino Bocaiúva também. Vamos conferir...” (05/05/2002)