Três bons motivos para ir à Pinacoteca
O que mais podem ter em comum três artistas plásticos como o fluminense Eduardo Alves da Costa, o catarinense Ivens Machado e o pernambucano João Câmara? Os três estão na Pinacoteca com mostras cuja entrada é aberta ao público até o final de abril, começo de maio e meados de junho, respectivamente.

O meu passeio no último domingo rendeu pelo menos essas três mostras, uma parada rápida para anotar alguns detalhes das exposições no Bravo Café do Ramos (na Pinacoteca mesmo) e uma caminhada para contemplar o Parque da Luz que mais parece um jardim. Como não foi possível tirar fotos das obras, fiz um resuminho de cada exposição abaixo.
Em Duas Cidades, João Câmara apresenta o conjunto de produções desenvolvidas entre 1987 e 2001 sobre as cidades de Recife e Olinda, onde os lugares públicos são o ponto de partida para retratar a história, (“do que poderia ter sido e do que já foi”) e as criações visuais do artista. A ponte, o farol, o beco, o armazém são partes das cidades reconstruídas no imaginário do artista como uma espécie de homenagem, mas que ao mesmo saltam aos visitantes como uma denúncia das diferenças sociais pelas quais o homem passa diariamente, da condição de opressão e de subdesenvolvimento vividas.
Entre esculturas, instalações, desenhos em folhas de caderno e objetos Ivens Machado preenche a sala Mário Covas da Pinacoteca com a mostra O Engenheiro de Fábulas. O artista consegue dar forma, leveza e cor a materiais rígidos utilizados: ferro, concreto, tela de arame, argila e cacos de vidro. Tiras de ferro parecem soltas no ar, quando na verdade estão amarradas por fios de aço cuidadosamente escondidos. O caco de vidro repele. “Tenho medo de me aproximar”, disse uma visitante, ao passar por baixo daquela peça de concreto pendurada com pedaços de vidro afundados parecendo uma armadilha. Talvez esse tenha sido o impacto que o artista tentou causar. O mal-estar que o ladrão sente quando tenta subir nos muros protegidos pelos cacos de vidro nos muros das casas ricas, lembra um texto ao lado da obra.
De longe, a primeira impressão que se tem é que as telas de Eduardo Alves da Costa são fantasiosas porque tem no colorido e nos desenhos bem delineados a isca para atrair o visitante. Mais de perto, percebe-se que o artista combinou elementos e pessoas em situações cotidianas que satirizam em tom objetivo alguns absurdos da vida humana. Como em Fafá e Fifi, em que uma mulher posa com a cachorrinha poodle no colo (lembra a foto de coluna social clássica); em Momento para Meditar, uma mulher solitária em sua confortável sala de estar está parada com olhar lacônico.
Como falar adianta só um pouquinho, é melhor ir até lá para ver as exposições. Eduardo Alves fica até 28 de abril, Ivens Machado até cinco de maio e João Câmara até 16 de junho. Só para relembrar: a entrada é gratuita. (23/04/2002)
Serviço:
Pinacoteca do Estado
De terça a domingo, das 10h às 18h. Próximo a estação Luz do metrô
www.uol.com.br/pinasp
http://www.alves-da-costa.de