Matemática do Centro
Por Renata Mesquita
Em minha visita à 25a Bienal de São Paulo, que este ano trata do tema Iconografias metropolitanas, dentre as obras de 190 artistas foi nas fotos dos peruanos Philippe Gruenberg e Pablo Hare que identifiquei o Centro de São Paulo.

Os apartamentos vazios do antigo centro de Lima, capital do Peru, tinham em suas paredes o reflexo dos edifícios das redondezas. O nome da instalação, “Camera Obscura”, já diz bem como as imagens foram produzidas – os artistas usaram a técnica da câmara escura que é o fundamento da fotografia tradicional.
Não sei o significado que os autores quiseram dar, mas pra mim as imagens tiveram um significado bem específico, aliás, bastante numérico. No mesmo momento lembrei de alguns dados sobre o povoamento do Centro que ouvi há algum tempo e se encaixavam perfeitamente naqueles cômodos ocos.
Nas últimas décadas, a diminuição da população residente na região central de São Paulo é assustadora. Em 1940, 33,4% da população do município estava concentrada aqui. Pelo Censo do IBGE de 2000 descobriu-se que atualmente apenas 3,96% dos habitantes da capital moram no Centro.
Embora abarrotado de transeuntes, os prédios residenciais estão cheios de espaços em branco nos seus interiores. Quase 10% dos domicílios vagos da cidade estão no Centro. O que em números representa 38.586 residências vagas. O maior índice é registrado na Sé, onde 26,84% dos 11.384 domicílios existentes estão desocupados. A área considerada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística considera como Centro a Administração Regional da Sé que engloba os bairros da Sé, República, Santa Cecília, Consolação, Pari, Consolação, Liberdade, Brás, Bom Retiro e Bela Vista.
É certo que não há garagens em muitos desses prédios, mas transporte é o que não falta. Nesse quesito, o lugar é muito bem servido. São quatro estações ferroviárias, duas delas integradas ao metrô, 19 estações de metrô – duas de baldeação – e 250 linhas de ônibus. A infra-estrutura também é bastante atraente. Nos 3.365 hectares são dois parques públicos, 61 bens tombados, 27 equipamentos culturais, 15 estabelecimentos que reúnem empresas de comunicação entre jornais e emissoras de rádio, 39 escolas de ensino superior, 207 entre escolas e creches e 22 hospitais. Essa região oferece 866 mil empregos – uma relação de 2,1 empregos por habitante residente no Centro.
Apesar dessas vantagens que se vê só de olhar pela janela dos espaçosos apartamentos da região, seus preços continuam bem abaixo da tabela. Quando será que, como na obra de Philippe e Pablo, a vizinhança vai se refletir no vazio dos apartamentos residenciais e atrair a atenção de quem passa? Atraindo assim o interesse a todos esses números, dando a eles vida para povoar o Centro. (08/04/02)