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Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.

06/12/2025 26.28 ºC, São Paulo

Vida cigana

Olho à minha volta, há duas cadeiras vagas apenas. O Teatro Municipal, lotado, ressoa em burburinho. As luzes se apagam. Um holofote aponta o maestro: Jamil Maluf. Aplausos. Ele toca a introdução de “Carmen”, de Georges Bizet (1838-1875), rejuvenescendo o teatro com bela música.

O público se cala e a cena começa. Conta-se a vida boêmia na França a partir dos olhos de uma fogosa cigana, Carmen (a mezzo-soprano Luciana Bueno), que desperta ardentes desejos em todos os homens. Não podendo ser diferente, ela captura o amor de um cabo chamado Don José (o tenor Marcello Vannucci). Possessivo, ele vai levar sua obsessão até o fim, desertando da carreira militar e enlouquecendo de ciúme pela volátil Carmen, que agora já se apaixona pelo famoso toureiro Escamillo (o barítono Paulo Szot). O primeiro de quatro atos se desenrola. Os personagens principais ainda demoram em aparecer. Vannucci faz as vezes de anfitrião, seguido pela envolvente e, nas palavras da diretora Carla Camurati, “com uma sensualidade safada, moleca e irresistível” Luciana Bueno. “O amor é um pássaro rebelde que não pode ser aprisionado”, canta Carmen, enquanto o cheiro da tabacaria sobe as paredes do Municipal. O som das castanholas envolve os ouvidos da platéia. O último a aparecer é o barítono paulistano de origem polonesa Paulo Szot (pronuncia-se “xót”), que já interpretou papéis importantes em montagens de “La Bohème” e “O Barbeiro de Sevilha”. A ópera marca, com gala, o início da temporada deste ano no Municipal. Sua versão original estreou em 3 de março de 1875, baseada na novela homônima de Prosper Mérimée. Seu autor, Bizet, morreria apenas três meses depois, decepcionado com a fraca acolhida de um novo gênero, que intercalava números cantados a textos declamados. Com cenários de J.C. Serroni, Carla Camurati escolheu fazer uma montagem com um elenco jovem. A soprano Guiomar Milan, de apenas 19 anos, por exemplo, dá um show como a apaixonada Micaëla, em solos vibrantes. Outro destaque das apresentações foi o Coral Infantil ECO, com crianças de 6 a 15 anos, regido pelo maestro Teruo Yoshida, um dos mais aplaudidos ao final. Foi um bom começo para a temporada 2002. (18/03/2002)

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