Esquece o preconceito, vai!

Por Érica Shimamura
Avenida Ipiranga, Sapori di Rosi. Uma música familiar ecoava pelo local, contrastando com o barulho da chuva que começava a cair. O café dali estava bom e o burburinho das conversas até que não atrapalhava. Nada mais que um fim de tarde de domingo no Centro de São Paulo.
Para mim, domingo é sempre um dia meio triste, com aquele clima de férias acabando. Mas, nesse caso, o domingo foi apenas nostálgico. Pude matar as saudades do tempo do Copan, daquele mês mágico e entusiasmante para todas nós, as meninas do Sampacentro. Por um instante parecia ter voltado no tempo.
Tinha chegado meio tarde. Havia passado das quatro horas e quase tudo estava fechado. Pudera, para um domingo comum. Nunca tinha visto o Centro tão vazio. Tudo bem, segui em frente, mas com um pouco de medo, confesso.
A poucos quarteirões do metrô São Bento lembrei que o CCBB estava aberto. Fui conferir a programação que trazia a exposição da artista plástica Laura Vinci e uma retrospectiva do fotógrafo japonês Hiroshi Sugimoto. Foi interessante descobrir que os dois tinham mais do que o CCBB em comum. Ela, a primeira mulher a expor no CCBB. E ele, trouxe pela primeira vez parte de seu trabalho para um país da América do Sul.
Saindo do CCBB, o vazio das ruas parecia ecoar e estava mais escuro e fiquei com medo novamente. Pensando bem, a percepção de violência que temos do Centro parece ser mais real que a própria violência em si. Já fui assaltada duas vezes em São Paulo, mas na região da Avenida Paulista, uma a pé e a outra de carro. O pior é que o Centro da cidade é que leva a fama de violento. É triste saber que existem pessoas em São Paulo que tremem só de pensar em ter de passar pela praça da Sé.
É verdade que para quase todo lado no Centro sempre pinta uma imagem meio feia ou desagradável. Ainda existe muita sujeira ali, muros pichados, ruas malcheirosas e gente morando nas ruas. Mas, em alguns pontos desta região da cidade muita coisa mudou. Para quem ainda não conhece a Sala São Paulo, na Estação Júlio Prestes, a Pinacoteca do Estado ou o próprio Edifício Copan, por favor, o passeio vale uma tarde.
Além disso, existem inúmeros centros culturais, museus, lojas, livrarias, teatros, sebos, igrejas, cafés, edifícios revitalizados, entre tantos passeios para conhecer no Centro. O melhor nessa história é que durante o dia dá para fazer todos esses passeios sem entrar em pânico. Apesar do aspecto bagunçado, a maioria das pessoas que estão ali trabalham ou moram na região. É bom lembrar: são pessoas como todo mundo, não são inimigos.
Talvez o medo do Centro da cidade venha da falta de conhecimento. Às vezes, a pressa faz a gente perder detalhes bonitos na cidade. Às vezes, o preconceito e a discriminação nos fazem perder tanta coisa interessante. Por isso, convido os internautas que estiverem lendo esse texto a encontrar a beleza do Centro. Eu garanto, vocês vão se surpreender com esse lugar. (06/03/2002)