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Para reviver um pouquinho do Centro visto pelos seus personagens.

06/12/2025 25.35 ºC, São Paulo

Batidas quebradas na Sé

Fim de tarde de uma segunda-feira em São Paulo. Sete e meia da noite, o sol mal se despediu e luzes vermelhas iluminam a praça externa do Poupatempo, na Praça do Carmo. Quase Praça da Sé. Ruídos eletrônicos tomam conta do lugar, que por alguns minutos parece uma nave espacial. Aos poucos, as pessoas que saem dos escritórios param para ver. E quem passa na rua pára para se juntar à massa. É a música na sua forma mais sublime: aproximando as pessoas. Por trás da cena está uma figura magra e simpática: o DJ Patife. Enquanto dá um show nas picapes, habilidoso com os vinis e inteligente ao "colar" ruídos à música, não pára um minuto de dançar --como costuma fazer sempre. "Meu trampo é minha diversão", diz. Wagner Borges Ribeiro de Souza, 25 anos, tocava pela segunda vez em um lugar aberto a todos no Centro da cidade, de graça, marcando a abertura do projeto "O Prazer do Corpo em Movimento", bancado pelo Sesc Carmo. A chuva que tinha caído não atrapalhou em nada. Até as criaças que estavam por ali dançavam, descalças, pulando nas poças de água. Um mendigo se juntou ao povo e só foi embora quando a música parou. "Teve uma vez, no Boulevard São João, em novembro do ano 2000, que conseguimos reunir umas 5.000 pessoas ou até mais", lembra. "Tinha gente do Anhangabaú ao Paissandu!" Patife diz que sempre dá uma olhada geral na pista (muitas vezes improvisada) pra ter idéia de quantas pessoas tem, mas desta última vez não conseguiu contar. "Foi tudo muito rápido. Mas é bem legal mostrar o seu trampo para pessoas diferentes, conquistar um público novo", diz. O drum'n'bass, originado nos guetos londrinos no começo da década de 90, é um ritmo eletrônico marcado pela bateria acelerada e pelo baixo pulsante, com samples de hip hop e reggae e elementos de jazz. Mas a música toma outras dimensões pelas mãos desse DJ, que acrescentou um sotaque brasileiro irresistível ao estilo e ganhou as pistas européias por volta de 1997. A formação musical de Patife começou cedo. Crescido entre a Vila Joaniza e a Cidade Ademar, na periferia de São Paulo, aos 13 anos tomou consciência do que queria: comandar o público, fazer festas. Começou com o hip hop e assumiu o posto de DJ do grupo de rap Fatos Reais por dois anos. Alguns casamentos, formaturas e quermesses depois, foi apresentado a um vinil de drum'n'bass. E nunca mais deixou de colocar samba e bossa nova na música eletrônica. O dinheiro que gastava em discos vinha do emprego como office-boy no Centro de São Paulo, onde trabalhou até 94. "Comecei a freqüentar a região com uns 10 ou 11 anos de idade", conta. "Com 13 anos, arrumei um trampo na Prestes Maia e só fui parar cinco anos depois." O tempo que passou trabalhando no Centro também ampliou os conhecimentos musicais do DJ. "A cena eletrônica tem muita força nessa região, principalmente por causa dos clubes GLS que existem ali", diz. "No número 116 da Rua 24 de Maio tem muitos CDs e discos, é onde fica o 'dance'. E os equipamentos eletrônicos? Na Santa Ifigênia tem tudo!" E arremata: "Não tem buraco que eu não conheça no Centro". (25/02/02) DJ Patife:
Presents Sounds of Drum'n'Bass - 1999
Cool Steps - 2001

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